SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Nos contos de fadas, a história costuma terminar com o casamento entre a mocinha e o galã seguida da frase: "E viveram felizes para sempre". Mas na vida real não é exatamente desse jeito que funciona. Depois da união do casal, começa um outro enredo. E é sobre esse período, suas alegrias e desafios, que a peça "A História de Nós 2", com Alexandra Richter, 52, e Mouhamed Harfouch, 41, se debruça.
O espetáculo, que estreou em 2009 e já foi visto por 800 mil espectadores, volta a cartaz em São Paulo nesta sexta-feira (11) para, inicialmente, uma temporada até o dia 29 de outubro, no Teatro Porto Seguro, na região central.
Também produtora da montagem, a atriz Alexandra Richter aponta ao menos dois motivos para o sucesso da produção mesmo depois de uma década em cartaz: a identificação que provoca no público e o fato de falar sobre casamento, tema que ela considera universal. "É uma comédia romântica, contada de uma forma muito simples", afirma.
A história, escrita pela autora Lícia Manzo (das novelas "A Vida da Gente", de 2011 e 2012, e "Sete Vidas", 2015, ambas na Globo), começa com o casal protagonista já separado. Maria Helena (Richter) aparece guardando as coisas do ex em uma caixa. E Carlos Eduardo (Harfouch) surge, em outro ambiente, tirando os seus pertences da caixa.
A partir daí, eles voltam no tempo e relembram o início do relacionamento, quando "tudo eram flores". Na sequência, a peça avança para o período em que eles se tornam pais e as complicações decorrentes disso.
Por fim, quando o filho cresce, a distância entre os dois aumenta cada vez mais, os levando para a separação. Ao longo do espetáculo, conforme o momento retratado, os dois assumem diferentes facetas de seus próprios personagens. Ela é Lena, Mammy e Maria Helena. Já ele é Edu, Duca e Carlos Eduardo.
"O casamento acaba não porque o amor acabou, mas porque essas seis facetas não se encontram mais", diz a atriz. O final, porém, guarda uma surpresa. E, segundo afirma Richter, costuma gerar debate entre os espectadores, já que pode gerar diferentes interpretações. "Muita gente comenta comigo que depois foi jantar fora e ficou discutindo sobre a forma como o espetáculo termina."
A atriz também conta que a produção já foi muito recomendada a casais em crise por terapeutas, padres e até pastores evangélicos. "'A História de Nós 2' virou uma grande terapia coletiva, porque o humor tem essa capacidade", diz Richter. Para ela, ao ver no palco situações que podem ser consideradas trágicas transformadas em humor, o espectador acaba aprendendo a rir de si mesmo. "Nesse sentido, a peça encanta."
Além disso, a atriz complementa que a produção apresenta o casamento de forma mais realista, ainda que com leveza e humor. "Sinceramente, as pessoas não falam muito sobre as suas vidas. Às vezes, elas mentem um pouco, elas dizem que transam muito, mas acho que é tudo mentira. (...) Gente, eu estou casada há 22 anos, vou dizer que transo todo dia? Mentira. Se eu disser isso, eu estou mentindo", diz ela.
Uma das cenas do espetáculo mostra como Lena depois de virar mãe, fica exausta e não quer mais saber de sexo. "Quando ela acaba de transar, ela fala: 'Já dei essa semana, agora, se Deus quiser, só semana que vem", conta Richter, aos risos.
Na visão da atriz, a mulher ainda tem de lidar com uma sobrecarga de funções que é muito pesada e desigual em relação ao homem. "Você tem que ser uma excelente profissional, uma ótima mãe, uma ótima esposa, tem que cuidar de você, tem que estar linda, gostosa e maravilhosa. No meio desse turbilhão de facetas, a mensagem da Lícia [autora] é: o que é mais importante? É o casamento? É a carreira? É a sua vida particular? É a saúde física, mental e espiritual?"
Ritcher já teve outros parceiros de palco em "A História de Nós 2", como os atores Marcelo Valle, com quem estreou a peça, e Bruno Garcia. Agora, será a primeira vez de Mouhamed Harfouch, um amigo de longa data, no papel de Edu, Duca e Carlos Eduardo. Segundo ela, o ator, que acabou de terminar de gravar a novela "Órfãos da Terra" (Globo), decorou todas as falas do espetáculo em três dias. "Ele chegou para o ensaio com tudo já na ponta da língua", diz.
Para a atriz carioca, que se mudou recentemente para São Paulo acompanhando o marido cientista que trabalha na cidade, é importante marcar o seu nome na cena teatral da capital paulista. "A Gabi [filha) amou, se apaixonou e fez amigos em São Paulo. Eu também me apaixonei e não me vejo mais morando no Rio", afirma.
Richter já planeja outras produções teatrais na cidade, como a montagem do seu monólogo cômico "Uma Loira na Lua", homenagem à atriz americana Lucille Ball (1912-1989).
"A HISTÓRIA DE NÓS 2"
Quando: De 11 a 29 de outubro. De sex. e sáb., às 21h; e dom., às 18h
Onde: No Teatro Porto Seguro (Alameda Barão de Piracicaba, 740, Campos Elísios, tel. (11) 3226-7300)
Preço: De R$ 45 a R$ 100 (há meia-entrada)
Classificação: 12 anos
Autor: Lícia Manzo