Desde 1969, o dia 28 de junho tem um significado especial para a comunidade LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e outros grupos minorizados). A princípio marcado pelo levante dos grupos oprimidos contra a truculência policial na cidade de Nova York, concentrados nas manifestações no bar Stonewall, o Dia do Orgulho LGBT+ também foi escolhido como data para a primeira parada gay do mundo, em 1970.
Incluída no Calendário de Datas Comemorativas de Porto Alegre apenas neste ano, a celebração ainda deverá ser especial no Brasil em 2019 graças à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de criminalizar a homofobia, por oito votos a três. Na votação histórica, os juízes decidiram que o ato enquadra-se no mesmo tipo penal do artigo 20 da Lei 7.716/1989, que criminaliza o racismo.
Para quem quiser entrar no clima da comemoração, GaúchaZH selecionou algumas obras que refletem e celebram a diversidade, do cinema até a literatura, além de opções de programação cultural em Porto Alegre. Confira:
Porto Alegre
Rocketman
Desde 30 de maio em cartaz nos cinemas porto-alegrenses, a cinebiografia de Elton John Rocketman, protagonizada por Taron Egerton, mostra a infância e o início da carreira do lendário artista pop, um dos primeiros a assumir publicamente sua homossexualidade. Na produção, que mistura a trajetória do britânico com números musicais, ainda é revelada em detalhes sua relação com o produtor musical John Reid — levando o filme a ser censurado em alguns países como China e Rússia.
Dor e Glória
Antonio Banderas e Pedro Almodóvar repetem a parceria de A Pele Que Habito, Ata-me!, Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos, entre outros filmes, em Dor e Glória, em cartaz em Porto Alegre desde 13 de junho. O ator vive o alter ego do cineasta espanhol na história, centrada em um diretor de cinema melancólico e em declínio, que relembra sua trajetória desde a infância nos anos 60, passando por sua primeira paixão e seu interesse precoce no cinema. A obra rendeu a Banderas o troféu de melhor ator no Festival de Cannes, em maio.
Rainhas da Noite
Gloria Crystal, Lady Cibele (Everton Barreto) e Laurita Leão (Lauro Ramalho) estrelam Rainhas da Noite, um espetáculo de variedades que comemora a carreira das três artistas nos palcos. Parceiras de longa data, juntas em Quando Eles Viram Elas (1991) e O Bordel das Irmãs Metralha (2006 – que ficou nove anos em cartaz), entre outras peças, elas se reúnem outra vez depois de sete anos separadas. O texto traz fragmentos relevantes de suas carreiras, com esquetes e cenas curtas, intercalados com números musicais.
As apresentações são realizadas no Estúdio Stravaganza (Rua Dr. Olinto de Oliveira, 64) aos sábados, às 21h, até 6 de julho. Ingressos a R$ 30, no local do evento a partir das 20h.
50 anos de Stonewall no Memorial
O Memorial do Rio Grande do Sul (Rua Sete de Setembro, 1.020, no coração da Praça da Alfândega) recebe a exposição De Stonewall ao Nuances: 50 anos de Ação, com fotografias, cartazes, panfletos, bandeiras, jornais e reportagens e uma recriação cenográfica do bar Stonewall Inn, de Nova York.
Com entrada franca, a mostra, em cartaz até 14 de julho, celebra o cinquentenário da revolta iniciada em 28 de junho de 1969, com um conflito entre clientes do Stonewall, espaço frequentado pela comunidade gay, e a polícia, que durou três dias. O episódio repercutiu em grande escala e tornou-se referência mundial na luta pela livre expressão sexual.
A exposição comemora também os 28 anos do Nuances – Grupo Pela Livre Expressão Sexual, pioneiro na conquista de direitos sociais e civis e no estabelecimento de uma legislação de combate à discriminação da população LGTBI+, cuja atuação no Estado é referência nacional. O Nuances realiza o evento em parceria com o curso de Museologia da UFRGS.
Exposição Fragile
A Bronze Residência (Rua Duque de Caxias, 444) também relembra os 50 anos de Stonewall com uma exposição gratuita. Nos dias 28 e 29 de junho, das 17h às 22h e das 16h às 20h, respectivamente, o espaço cultural abre suas portas para Fragile. A mostra traz o trabalho dos artistas Agni, Fagner Damasceno, Lucas Saccon e Renata Selister com obras que se estendem da fotografia até a performance e instalação. Eles prometem trazer à luz a realidade sangrenta enfrentada pela comunidade LGBT+ no Brasil, com narrativas de sobreviventes, destacando os altos índices de violência e homicídios deflagrados contra as pessoas trans e travestis.
Televisão e streaming
120 Batimentos por Minuto
No início dos anos 1990, na França, o grupo ativista Act Up se esforça para que a sociedade reconheça a importância da prevenção e do tratamento em relação à aids. Recém-chegado ao grupo, Nathan (Arnaud Valois) logo fica impressionado com a dedicação de Sean (Nahuel Pérez Biscayart) à causa, e os dois se aproximam. Dirigido por Robin Campillo, o filme venceu o prêmio César do cinema francês de 2018.
Disponível no Now, no YouTube e na Apple TV.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
O longa-metragem de Barry Jenkins foi o grande vencedor do Oscar de 2017, levando para casa prêmios como melhor filme, melhor ator coadjuvante e melhor roteiro adaptado.
Na trama — inspirada na peça In Moonlight Black Boys Look Blue, de Tarell Alvin McCraney —, são acompanhadas três fases da vida de Chiron, um jovem negro homossexual morador de uma comunidade pobre de Miami: a infância sofrida por causa do bullying, a adolescência confusa pela crise de identidade e a fase adulta com a tentação do universo do crime e das drogas. Uma história de amor com todos os componentes necessários de um grande clássico da cinematografia norte-americana.
Disponível na Netflix, Now, YouTube e Apple TV.
Me Chame pelo seu Nome
Indicado ao Oscar de melhor filme, o longa de Luca Guadagnino mostra os primeiros passos do romance de Elio (Timothée Chalamet) com Oliver (Armie Hammer), um pesquisador.
O jovem norte-americano com ascendência italiana e francesa passa as férias na Itália, e seu novo amor é assistente de seu pai. Inspirado no livro homônimo de André Aciman;
a continuação da obra deve ser lançada em outubro no Brasil.
Disponível no YouTube e na Apple TV.
Azul É a Cor Mais Quente
Vencedor da Palma de Ouro de Cannes, o filme de Abdellatif Kechiche lançado em 2013 conta a história de Adèle (Adèle Exarchopoulos), uma garota de 15 anos que se apaixona por outra mulher, Emma (Léa Seydoux), uma jovem de cabelos azuis. Em paralelo ao romance secreto, Adèle trava uma guerra com sua família e contra os supostos "valores da sociedade".
Disponível no Telecine Play, Now, YouTube e Apple TV.
Elisa & Marcela
Baseado em uma história de amor real, Elisa e Marcela narra o romance proibido entre duas mulheres no início do século 20 que decidiram desafiar os costumes e leis de sua época para permanecer juntas. Conduzido pela diretora espanhola Isabel Coixet, o longa-metragem mostra como Elisa Sánchez Loriga se disfarçou de homem para se casar com Marcela Gracia Ibeas, tornando a união em 1901 o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo na Espanha. Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim 2019.
Carol
Nos EUA dos anos 1950, Carol Aird (Cate Blanchett) é uma mulher de classe média em crise no casamento. Assim ela inicia um romance com uma jovem vendedora de loja de departamentos, chamada Therese Belivet (Rooney Mara). A ligação tem como barreiras o preconceito e as convenções sociais. A trama é baseada no livro de Patricia Highsmith, autora de Pacto Sinistro e O Talentoso Ripley, que imprime na obra de amor homoafetivo uma carga pessoal: a escritora usou o pseudônimo de Claire Morgan para evitar que sua homossexualidade fosse descoberta aos 27 anos. Disponível na Netflix, na Apple TV e no YouTube.
Trans Missão – Canal Brasil
Novo programa de entrevistas apresentado pelas artistas trans Linn da Quebrada e Jup do Bairro, sob a direção de Claudia Priscila e Kiko Gofman. Os cinco episódios da primeira temporada já estão disponíveis para streaming no Canal Brasil Play, com participação de Paola Carosella, Gloria Groove, Rincon Sapiência, Glamour Garcia e Erica Malunguinho.
A atração também é exibida pelo Canal Brasil nas terças-feiras, à meia-noite.
Queer Eye — Netflix
Reboot do seriado homônimo de sucesso entre 2003 e 2007, a nova versão de Queer Eye, disponível na Netflix, segue a mesma proposta da original: coloca um grupo de cinco jovens gays para mudar a vida de um homem heterossexual com problemas. Cada um dos Cinco Fabulosos tem uma especialidade. Bobby Berk cuida da parte de design e arquitetura, Antoni Porowski é responsável por comida e bebidas e Jonathan Van Ness se preocupa com o cabelo e os cuidados com o corpo. O time ainda conta ainda com Tan France, que renova o guarda-roupa e o visual, e Karamo Brown, que dá aulas sobre autoestima, personalidade e comportamento.
Gentleman Jack — HBO Go
Série dramática de Sally Wainwright que retrata a vida de Anne Lister (1791-1840), uma mulher disposta a enfrentar o status quo de 1800, na Inglaterra. Revolucionária, ela defende o casamento homoafetivo, tem cabeça para os negócios e se opõe às expectativas da sociedade do século 19. Na história, Anne ainda se apaixona por outra mulher, Ann Walker (Sophie Rundle). Ela tenta convencer a jovem a assumir o romance lésbico, mas precisa enfrentar o forte julgamento de seus familiares e a cultura da época.
Pose – Fox Play
Série de Ryan Murphy, de American Horror Story e Glee. Indicada ao Globo de Ouro de melhor série dramática de televisão, a produção também rendeu uma indicação a Billy Porter na categoria de melhor ator. A história acompanha as lutas da comunidade LGBT em Nova York, no final dos anos 1980.
Sense8 — Netflix
Uma das séries mais representativas do universo LGBTQI+, a produção das irmãs Wachowski trata da complexidade da sexualidade sob diversos prismas. Uma das protagonistas da trama, Jamie Clayton, é uma atriz transexual, assim como as irmãs criadoras da série (que se tornaram famosas por Matrix, quando ainda não tinham feito a transição sexual e eram conhecidas por seus nomes masculinos, Andy e Larry).
Crônicas de San Francisco — Netflix
Estreia de junho deste ano, a minissérie original da Netflix, em 10 episódios, é inspirada na obra de Armistead Maupin e estrelada por Laura Linney (Ozark), com Ellen Page. Na história, Mary Ann retorna para São Francisco após duas décadas, quando abandonou sua filha e
ex-marido para investir em sua carreira. Na cidade, ela depara com uma nova geração LGBT+ que tomou o local.
Literatura
HOMENS ELEGANTES
De Samir Machado de Machado
Livro vencedor do Prêmio Açorianos de Literatura de 2017, Homens Elegantes é um romance histórico do escritor gaúcho Samir Machado de Machado. Ambientada na Londres de 1760, a narrativa segue um soldado brasileiro enviado à ilha britânica pelo governo para investigar uma rede de contrabando de literatura erótica da Inglaterra para o Brasil. Uma vez envolto pelo universo libertino e LGBT do século 18, o rapaz se deslumbra com esta nova realidade de luxos e excessos. Rocco, 576 páginas, R$ 54,50 (papel) e R$ 29,50 (e-book).
UM ÚTERO É DO TAMANHO DE UM PUNHO
De Angélica Freitas
Poeta, tradutora e lésbica: Angélica Freitas — outra gaúcha na lista — apresenta 35 poemas em seu segundo livro, intitulado Um Útero É do Tamanho de Um Punho. A mulher é o centro temático dos versos, que colocam em questão as definições de figuras femininas normalmente evocadas pela sociedade. Em um dos poemas iniciais, ela já provoca: "Era uma vez uma mulher/ e ela queria falar de gênero/ era uma vez outra mulher/ e ela queria falar de coletivos/ e outra mulher ainda especialista em declinações/ a união faz a força/ então as três se juntaram e fundaram o grupo de estudos/ celso pedro luft". Companhia das Letras, 96 páginas,
R$ 27,90 (papel) e R$ 16,90 (e-book).
AMORA
De Natalia Borges Polesso
Conjunto de narrativas curtas escritas para representar diferentes facetas e perspectivas do amor entre mulheres. São textos que passeiam por diversos estágios da aceitação e de liberdade no exercídio de sua sexualidade. Jovens vivendo a voragem dos afetos contemporâneos, mulheres mais velhas em relações estáveis construídas com insistência e coragem, adolescentes lidando com a descoberta da própria identidade. São relatos de inícios de romance, de rompimentos dolorosos, traições, enamoramentos. O livro foi premiado como melhor volume de contos no Jabuti de 2016. Não Editora, 256 páginas, R$ 44,90.
AS COISAS
de Tobias Carvalho
Volume que reúne 23 contos retratando o cotidiano sexual e afetivo da homossexualidade masculina contemporânea. Com uma linguagem ágil e concisa, As Coisas é composto de vinhetas que flagram aspectos diversos de um mesmo universo afetivo, o de uma geração crescida em tempos menos repressivos e vivendo em tempos ultraconectados em que a aproximação de um objeto de desejo pode se dar tantos nade desejo pode ser tanto nos corredores da faculdade quanto no Grindr. Record, 144 páginas, R$ 34,90.
CLORO
De Alexandre Vidal Porto
Seguindo os passos do Brás Cubas machadiano, Alexandre Vidal Porto narra este romance pelas palavras de um morto, Constantino Curtis, advogado que estabeleceu uma respeitável vida burguesa enquanto mantinha em sigilo sua condição de homossexual por cinco décadas. Após um evento trágico abalar sua vida familiar de homem casado e com dois filhos, Constantino se entrega a uma vida dupla tentando exercer sua sexualidade sem revelar sua real natureza. É o terceiro romance de Porto, diplomata brasileiro autor do elogiado Sérgio Y. Vai à América. Companhia das Letras, 152 páginas,
R$ 49,90 (papel) e R$ 39,90 (e-book).
RICARDO E VÂNIA
De Chico Felitti
Desenvolvida a partir da reportagem de Chico Felittti para o BuzzFeed News Fofão da Augusta? Quem me chama assim não me conhece — vencedora do prêmio Petrobras de jornalismo na categoria inovação —, a obra revela a história de Ricardo Corrêa da Silva, conhecido como Fofão da Augusta, figura folclórica da cidade de São Paulo, e seu grande amor, Vânia — que nasceu como Vagner. Editora Todavia, 192 páginas, R$ 54,90 (papel) e R$ 34,90 (e-book).