Desde sexta-feira (19), o Rafuagi, um dos mais representativos grupos de rap do Rio Grande do Sul, está na Europa, em sua 10ª turnê internacional. Até então, os rappers de Esteio fizeram sete tours na América do Sul e duas na Europa - esta que se inicia é a terceira.
A turnê dos rappers, Rafa, 30 anos, Ricky, 39, e DJ Croko, 33, que vai até o dia 28, começou nesta sexta (19) em Nanterre, seguiu neste sábado, (20), em Paris, na França, e terá apresentações, ainda, em Coimbra, em Dublin, na Irlanda (26) e em Coimbra, Portugal (28), apresentando o disco que celebra 15 anos de estrada dos gaúchos. Batizado de Áudio Instrução, o CD contém 10 faixas inéditas _ todas autorais (disponível somente nas plataformas digitais). Embarque na trajetória desses músicos que, mesmo com muito talento, tiveram que ralar sem trégua para chegar até aqui.
Conexão sem fronteira
Sempre ligado em temas atuais, o Rafuagi bate forte em um tema importante no seu novo disco: a violência contra a mulher. Uma das principais faixas, Diss Construir toca na questão e conta com a participação especial da atriz Denise Fraga, que gravou um trecho da letra em São Paulo.
Outro destaque do álbum, e que estará na turnê, é a música Se o Tempo Permitir - Parte 2. O clipe traz o rapper cearense RAPadura Xique-Chico.
— É um disco forte. Combate muito o racismo, a violência contra a mulher. Levanta bandeiras, como sempre fizemos — afirma Rafa.
Sobre os shows na Europa, os rappers esperam encontrar uma grande mescla de público. Em Nanterre, cidade na região metropolitana de Paris, os gaúchos, que postaram uma foto na cidade na tarde desta sexta-feira (19) se apresentam, na Semana da Juventude, para um público diverso.
Em Paris, neste sábado (20), foi em um bar:
— Na próxima sexta (no dia 26), em Dublin, é mais para brasileiros. Quem produz o evento, DJ Rafa Peralta, é gaúcho e mora lá. No dia 28, o show é na Universidade de Coimbra. Terá brasileiros, claro, mas gente do mundo inteiro, por ser uma universidade muito tradicional.
Parcerias gringas e nacionais
Além de turnês pela América do Sul e pela Europa, nesses 15 anos, o Rafuagi ganhou destaque ao gravar com nomes conhecidos da música nacional e internacional. Em 2013, os gaúchos fizeram uma dobradinha na faixa Velas ao Vento com participação especial do uruguaio Daniel Drexler. Em 2014, foi a vez de uma parceria com Emicida na canção Resta 1.
A música fala sobre a resistência negra contra a opressão, o racismo e a desigualdade social. Por falar em parcerias, o grupo gravou, na estada na França, novo clipe, da faixa Sombras, com participação especial do rapper português MK Nocivo.
Saiu do papel
Em 15 anos de história, uma das grandes batalhas do Rafuagi obteve êxito em 2017. Em novembro daquele ano, foi inaugurada a Casa da Cultura Hip Hop de Esteio, no bairro São Sebastião.
O projeto, idealizado por eles, era um sonho antigo do grupo e da Associação da Cultura Hip Hop da cidade, que lutavam por um espaço em que pudessem oferecer cursos e levar adiante a consciência do gênero no Estado.
— Sem dúvida, foi algo marcante para nós. Conseguimos tirar do papel algumas de nossas ideias — comemora Rafa.
Está dado o recado
As bandeiras do Rafuagi
RAFA
"No lançamento de cada disco, é possível notar que estamos mais maduros na mensagem que queremos passar. Por exemplo, o disco Esse É Meu Lugar, gravado em 2006, só foi lançado em 2012, por uma série de questões burocráticas. Em 2012, a gente estava cantando coisas de 2006, sendo que nossa cabeça já tinha mudado. O disco de 2019 é totalmente diferente. Ele foi todo escrito e produzido no começo deste ano e lançado agora. Esse reflete nossos pensamentos atuais."
DJ CROKO
"Esse disco é dos mais focados que temos, principalmente no combate ao racismo. Está no dia a dia, toda semana aparece alguma coisa. Essa questão não pode ser colocada para escanteio. Na minha opinião, essa parada nem devia mais ser discutida, pois não é a cor de alguém que define uma pessoa. Mas, para a sociedade é. Infelizmente."
RICKY
"Isso é um dos fundamentos do rap: tem que ter conteúdo. E acredito que é muito pertinente falar sobre política, dar um norte para as pessoas, mostrar que as coisas estão erradas. Levantar bandeiras sociais sempre foi um trabalho do Rafuagi, a gente luta por isso. O rap serve para isso, para apontar problemas, mas, também, para mostrar o lado bom das coisas."
Evolução constante
RAFA
Em 2009, Rafa (foto abaixo) acumulava as funções de músico e de fiscal em uma empresa de ônibus, (na época, o Diário entrevistou o rapper, uma das promessas do gênero).
Questionado sobre o que pode ter mudado de lá para cá, ele é direto:
— Acredito que as coisas que a gente defendia, e que eu defendia, saíram do discurso. Porém, uma coisa não mudou: sigo com o apoio dos meus pais (Juarez Santos e Maria Odete dos Santos, na foto abaixo, com a irmã de Rafa, Natália).
DJ CROKO
"A evolução é conjunta, todos sempre se ajudaram. É uma pergunta pessoal, mas eu acredito que a resposta passa pelo coletivo. Se não fossem os guris, a ajuda deles, não teria a evolução que tive na música. Como músico e DJ, agradeço demais a eles. Manter 15 anos de grupo não é fácil, tem que gostar de trabalhar e gostar das parcerias."
RICKY
"Acredito que estou sempre em evolução, sempre aprendendo. A cada álbum, eu amadureço. A cada dia, me sinto mais engajado nas causas sociais. Tudo que absorvo de conhecimento, transmito para a minha música."
O grupo em números
— Surgido em 2004, o Rafuagi já fez mais de mil shows em 300 cidades, no Brasil, na América do Sul e na Europa.
—Tem três EPs, três CDs e um DVD.