Alguns anos atrás, Megan Fox teve uma epifania: "Acho que posso encontrar a Arca da Aliança", disse a si mesma.
Havia um método por trás de sua aparente loucura. Criada sob a fé Pentecostal, Fox ansiava por recuperar o artefato que validaria as histórias bíblicas de sua infância. Durante as filmagens de Transformers: A Vingança dos Derrotados, quando tinha seus 20 e poucos anos, ela fez uma visita particular à grande pirâmide de Gizé que a deixou embasbacada e ansiosa por mais explorações.
Enquanto assistia a Alienígenas do Passado, no History Channel, Fox teve uma iluminação.
— Sempre fui muito apaixonada por povos antigos, por religiões e práticas mágicas antigas, sem saber o que fazer com isso. E então comecei o projeto de um programa — contou.
Nas quatro partes de Legends of the Lost, transmitido às terças-feiras de dezembro no Travel Channel, Fox desenvolve algumas de suas teorias alternativas da História enquanto mostra pesquisas atuais – por exemplo, a possibilidade de que tenham existido guerreiras vikings, ou as propriedades de cura de Stonehenge, a existência de gigantes pré-históricos na América do Norte e a probabilidade de que a guerra de Troia tenha realmente ocorrido.
— Eu me sinto atraída por mistérios arqueológicos, e sinto que tenho uma missão em relação a isso. Se é para ser um Indiana Jones literal, quem pode dizer? — comentou.
O estrelato de Fox começou com a franquia Transformers, cujo diretor, Michael Bay, ela comparou com Hitler em uma entrevista de 2009; mais tarde, eles fizeram as pazes e ela chegou a participar do filme As Tartarugas Ninja, do qual Bay foi um dos produtores.
Recentemente, em um bar do Upper East Side, sua conversa se voltou para a Ilíada de Homero, o Sudário de Turim e física quântica. De passagem por Nova York, vinda de Los Angeles, onde vive com seu marido, o ator Brian Austin Green, e seus três filhos, Fox, 32 anos, discutiu a raiz de sua obsessão arqueológica, como as mulheres são tratadas em Hollywood e por que ela não se pronunciou durante o movimento #MeToo.
Como Alienígenas do Passado, um programa controverso sobre visitas extraterrestres pré-históricas à terra, a inspiraram a criar sua própria série?
Eu nunca tinha lido o livro de Erich von Däniken (Eram os Deuses Astronautas?) e foi a primeira vez que ouvi falar da teoria dos antigos astronautas (que postula que os extraterrestres trouxeram suas tecnologias de construção de pirâmides e monólitos para a terra durante tempos pré-históricos). Expandiu minha consciência a respeito de coisas que sempre questionei e me forneceu substrato para continuar explorando.
Você disse que suas teorias são alternativas, enquanto sua equipe de produção seria mais científica. Ela já chegou ao ponto de falar algo como: "Megan, você está indo além?"
O pessoal não diz isso porque está comigo há tempo suficiente para ver que, mesmo que ache excêntricas ou estranhas as coisas que digo, elas sempre acontecem. Então, sou uma espécie de vidente reverenciada neste momento por todos.
Essa é a primeira vez que você trabalha como produtora executiva e criadora. Parece uma mudança na carreira. Que outras surpresas você tem por aí?
R: Realmente, estou fazendo um papel num filme sul-coreano (Marguerite Higgins, do New York Herald Tribune, que em 1951 se tornou a primeira mulher a ganhar um prêmio Pulitzer de reportagem internacional, por sua cobertura da Guerra da Coreia). Eles me apresentaram o projeto e eu fiquei tipo: "Vocês têm certeza de que eu sou a pessoa certa para esse papel?" (Risos). Normalmente, me oferecem papeis de garota malvada, a rainha má, a stripper, a prostituta com um coração de ouro. Mas é algo novo, imprevisível, e isso é empolgante.
Como você gostaria de ser vista?
Essa é uma boa pergunta espiritual. E é uma pergunta complicada, porque não sei o que importa. Naturalmente, importa para nós, mas não acho que deveria. Então é nisso que estou trabalhando – em transcender.
Você já disse abertamente que Hollywood desvaloriza as mulheres, e talvez sua carreira tenha pagado um preço por isso. Na verdade, um artigo do ano passado sugeriu que o público te deve um pedido de desculpas. A gente te deve isso?
Esse é um sentimento bonito e fico grata. (Pausa longa.) Não sei se quero sentir qualquer coisa em relação a isso, porque minhas palavras foram tiradas de contexto e usadas contra mim de uma forma realmente dolorosa – naquele momento na minha vida, naquela idade e lidando com aquele nível de fama. Não quero dizer isso sobre mim, mas digamos que eu estava à frente do meu tempo e que as pessoas não foram capazes de entender. Em vez disso, fui rejeitada por causa de qualidades que agora são elogiadas em outras mulheres que têm se colocado. E, por causa da minha experiência, sinto que provavelmente sempre estarei fora da compreensão coletiva. Não sei se vai chegar um momento em que vão me considerar normal, relacionável ou amável.
Mesmo com o movimento #MeToo, com todo mundo colocando essas histórias para fora – e se as pessoas supõem que tenho algumas histórias desse tipo, de fato tenho –, não expus isso por muitas razões. Só achei, com base na recepção que tinha tido das pessoas e de feministas, que eu seria uma vítima compreendida. E pensei que, se alguma vez houvesse um momento em que o mundo concordaria que é apropriado culpabilizar a vítima, seria quando eu apresentasse minha história.
Você tem três filhos. Está pensando em criar boas pessoas?
Se estou pensando? Sim, muito. Sou a janela através da qual eles veem todas as mulheres agora. Sou a introdução ao divino feminino. E, se eles se sentirem seguros comigo como a principal mulher em sua vida, é provável que se sintam seguros com as mulheres em geral. Se virem o pai deles me respeitar, é provável que pensem que é como todos os homens deveriam ser. Parece simples. Mas provavelmente não é.
Por Kathryn Shattuck