O Museu Nacional, no Rio de Janeiro, não tinha seguro para emergências nem brigada de incêndio. A informação foi confirmada pela vice-diretora do espaço cultural Cristiane Serejo, em entrevista ao jornal O Globo, nesta terça-feira (4). Ela justificou à publicação que o museu não tinha condições financeiras para manter o esquema de segurança.
— Não tinha brigada de incêndio. Aliás, posso falar aqui que a grande maioria dos prédios públicos desse porte não tem. É um custo a mais. E é isso. Só aqui no museu a universidade gasta R$ 8 milhões por mês só com terceirizados. Então, é caro, mas a gente sabe da importância. A gente contava com esse dinheiro do BNDES (financiamento de R$ 20 milhões) para melhorar a situação. Mas isso tudo com consciência de a gente estar aqui e não negligenciando do jeito que está sendo divulgado.
No último domingo (2), o museu foi destruído por um incêndio, causando perdas irreparáveis para a ciência e a história no Brasil. A vice-diretora disse que a coleção egípcia foi praticamente toda perdida. Moradores da Vila Isabel encontraram pedaços de papéis pertencentes ao acervo do palacete, que voaram pelos ares a até três quilômetros de distância. Residentes da Tijuca também viram cinzas caírem do céu.
Um dos militares que estavam trabalhando no rescaldo do prédio afirma que sofreu uma queimadura na tentativa de abrir um armário em ferro incandescente onde havia um crânio — mas ainda não é possível afirmar que era o de Luzia, o fóssil humano mais antigo das Américas. A arqueóloga Cláudia Rodrigues, uma das diretoras do espaço cultural, afirmou que a identidade só será confirmada após análises técnicas.
O acervo do Museu Nacional tinha centenas de crânios. Ainda de acordo com a assessoria do local, os fragmentos de Luzia não estavam em exposição, por serem muito requisitados por estudiosos.
Entre os poucos objetos salvos do acervo, estão noves rolos de pergaminhos da Torá em hebraico. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), os documentos datados de até mil anos atrás — e adquiridos por dom Pedro II — haviam sido transferidos para a seção de obras raras da Biblioteca do Horto. São conhecidos como Pergaminhos Ivriim e tombados pelo Iphan desde 1998.
Governo federal vai reconstruir prédio
O governo federal anunciou na tarde de ontem três decisões para a reconstrução do prédio da Quinta da Boa Vista e preservação do patrimônio histórico brasileiro: a publicação de uma medida provisória que cria a Lei dos Fundos Patrimoniais, a instalação de um comitê gestor e a liberação de R$ 25 milhões. O dinheiro será repassado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), através de um edital, para financiar projetos executivos de segurança e prevenção de incêndios, além de modernização de museus, arquivos e instituições.
Sobre os fundo patrimoniais, o Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, informou que o governo enviará uma medida provisória ao Congresso Nacional para prever a criação deles. O objetivo é ter um fundo especial do Museu Nacional para facilitar a doação de recursos públicos e privados. Por sua vez, o texto desta MP será fechado por um comitê criado para coordenar o processo de reconstrução do palacete imperial. O grupo integrará os ministérios da Educação, Cultura, Relações Exteriores e Casa Civil, além de bancos públicos.