Entre DVDs, blu-ray, CDs de músicas e games, a estudante de Jornalismo Ana Carolina Caumo, 22 anos, chorava em sua última visita à Espaço Vídeo, uma das locadoras mais tradicionais do Estado que fechou as portas neste sábado (12), em Porto Alegre.
— Me criei aqui dentro— afirmou a jovem, enxugando as lágrimas.
Acompanhada da mãe e da irmã, por quase duas décadas, Ana frequentou semanalmente a loja no bairro Bom Fim em busca de vídeos, sobretudo de musicais antigos, um dos seu gêneros preferidos.
— Estou bem chateada como podem ver. Aqui sempre teve muita variedade. O que não acontece com filmes por assinatura, que tem poucas opções. Agora, quando precisar de algo mais raro, o jeito vai ser importar — lamentou a estudante.
O sentimento de Ana reflete o de milhares de clientes que a empresa colecionou em mais de 32 anos de atividades, período em que teve cinco lojas com 80 empregados, incluindo motoboys para telentregas. O sábado derradeiro da Espaço Vídeo foi de movimento intenso, parte pelas promoções de produtos pela metade do preço, mas também por conta das despedidas de amigos, de clientes e de ex-empregados.
— Um dia difícil, de muita emoção. As pessoas entrando aqui para nos abraçar, beijar. Pela manhã, em apenas três horas, foram 60 mensagens via Facebook com 253 curtidas. Somos muito gratos. Abrimos mão de incansáveis finais de semana pelo amor ao cinema e porque nos sentimos importante no contexto cultural e emocional para muitas pessoas — desabafou Eliane Kives, 54 anos, fundadora da locadora com o marido Elio Kives, 57 anos.
Sem esconder uma pontinha de nostalgia, Eliane lembrou da trajetória da empresa, desde a abertura da primeira loja, em uma pequena garagem na mesma rua, a Vasco da Gama, com apenas 280 fitas dos tipos Betamax e VHS, em novembro de 1985.
Recordou que, ao longo de três décadas, a empresa conquistou prestígio nacional, oferecendo até 80 mil títulos, integrando o Top 5 do ranking de compras da Warner e se tornando case de vendas da Fox Filmes, quando do lançamento de Star Wars. Em 1999, a Espaço atingiu o seu recorde de unidades locadas de um mesmo filme, com 101 cópias de Titanic.
Há três anos, Eliane se preparava para este momento, percebendo que o setor sofre forte concorrência dos serviços de streaming, além de uma mudança comportamental.
— Não é só a questão de tecnologia. As pessoas estão vendo menos filmes, aproveitando o tempo disponível para as mídias sociais — observou a empresária que está derivando para outro ramo comercial.
Entre os cinco atuais empregados dispensados, a supervisora Michele Maier é que vai guardar as maiores lembranças. Aos 41 anos, trabalhou na Espaço Vídeo por duas décadas — foi seu primeiro emprego.
— É um momento especial, com misto de emoções, mas de comemoração pela sensação de dever cumprido — resumiu.
O prédio da locadora será alugado, e o estoque de produtos restantes ainda não tem destino certo.