Depois de 10 anos de planejamento e com cinco anos de atraso, finalmente o Louvre Abu Dhabi foi inaugurado nesta cidade castigada pelo sol que é a capital dos Emirados Árabes Unidos. E o que quer que se diga do novo museu, certamente vale a pena ser visto.
A arquitetura chamativa está fora de moda, mas ainda produz maravilhas visuais. A versão emiradense, projetada por Jean Nouvel, pode ser descrita como "árabe-galática", graças ao formato – uma meia-esfera imensa, em filigrana cinza sobre uma base baixa, cercada de canais de água que poderia muito bem passar por uma nave espacial, uma mesquita não acabada ou um pavilhão veneziano às margens do Golfo Pérsico.
Vista de baixo, a cobertura é porosa e aberta, mas com camadas densas para criar um efeito de sombra pintalgada. O domo cobre completamente os vários prédios de paredes caiadas e teto plano que compõem o complexo – as galerias, um auditório, um café –, o que faz com que pareça moderno e arrojado e, ao mesmo tempo, tradicional como as casas dos vilarejos interioranos do país.
O museu fica tecnicamente na cidade, mas não de uma forma que pareça natural: está localizado em uma base rochosa batizada – muito provavelmente pela Autoridade de Cultura e Turismo de Abu Dhabi, ou sua agência de desenvolvimento – de Saadiyat Island, ou Ilha da Felicidade. Ligado ao continente por uma ponte, a região certamente será um "distrito cultural", com hotéis, condomínios, shopping centers e outros museus, incluindo a versão local do Guggenheim. Paga com dinheiro dos hidrocarbonetos e construída principalmente por operários sul-asiáticos, Saadiyat foi fabricada basicamente como destino de lazer mundial.
O Louvre Abu Dhabi também é uma fabricação, pois não é uma franquia oficial do original. Pelo equivalente a US$1,15 bilhão, o museu apenas arrendou temporariamente a marca Louvre. Poderá usar seu nome ilustre durante trinta anos e tomar emprestadas obras da matriz e outras instituições públicas francesas (como o Musée d'Orsay, o Centro Pompidou, a Bibliothèque Nationale etc.) durante dez anos, o que dará ao novo museu tempo para montar uma coleção permanente própria – o processo de aquisições já está bem adiantado, aliás – e criar sua própria versão de história da arte global.
E como ela é, já que atualmente se vê representada quase que exclusivamente por empréstimos? Item por item, realmente sensacional. Enquanto narrativa, como pode ser interpretada? Seu ritmo é forte e engajado, mas suavizado e incompleto – o que vale para todos os museus enciclopédicos que conheço.
Espalhados entre 23 galerias, a exibição inaugural de pouco menos de 600 objetos – 300 de museus franceses, 24 de coleções médio-orientais e aproximadamente 230 do próprio Louvre Abu Dhabi – segue uma linha do tempo histórica. É inovadora pelo fato de ser intercultural, com obras ocidentais e não ocidentais lado a lado.
Alguns museus internacionais já fizeram experimentos com esse tipo de mistura, mas nenhum de que eu tenha conhecimento o adotou como estilo definitivo. Em outros lugares, classificações colonialistas antigas, moldadas nas linhas geográfica e étnica, ainda são profundamente arraigadas, sem falar que são úteis politicamente. O Louvre Abu Dhabi, por sua vez, não só optou por um modelo completamente integrado como também o promove como diferencial.
Já se vê a forma como a coisa funciona no "vestíbulo" introdutório, onde as vitrines reúnem pequenos grupos de objetos de mesma temática. Uma estatueta de bronze da deusa egípcia Ísis amamentando o pequeno Horus, de 400-800 a.C.; uma Virgem Maria e o Menino Jesus francesa, de marfim, do século XIV; um entalhe em madeira representando mãe e filho, do século 19, da República Democrática do Congo. Juntos, projetam a imagem da maternidade através dos séculos e diferentes culturas. Três máscaras funerárias de ouro, da China antiga, Peru e Síria, sugerem uma relação amplamente compartilhada de materiais preciosos com a imortalidade e a lembrança.
Esse tipo de agrupamento pode ser simplista e historicamente inexato, mas, enquanto estratégia, tem lá sua função; na verdade, é a única forma de lidar com uma coleção tão ampla em constante evolução. Embora o Louvre Abu Dhabi tenha feito várias aquisições – do período pré-histórico ao contemporâneo –, desde 2009, os itens rapidamente acumulados representam variedade, mas não profundidade. Mostrar objetos fortes, mas isolados, de várias partes do mundo, é uma maneira de tornar essa limitação uma virtude.
Essa abordagem de combinação também pode representar vantagens para a educação e o engajamento do visitante. O Louvre Abu Dhabi está apostando na teoria de destaque das ligações entre as mais diversas culturas para tornar a arte mais acessível ao público global que espera atrair. Uma vez que o espectador adquire o hábito de identificar as conexões, pode vir a entender que todas as culturas são igualmente valiosas e pessoalmente relevantes.
Depois da galeria introdutória, a instalação continua em grupos de época, de "Os Primeiros Vilarejos" a "O Palco Global" do século 21, com religião, comércio e política como temas principais. A forma como a rota é estabelecida não oferece muito em termos de novidade acadêmica, mas o que não faltam são imagens fabulosas.
Obras consideradas "clássicas", instantaneamente reconhecíveis para o espectador ocidental, parecem exóticas e surreais nesse ambiente multicultural: "La Belle Ferronnière" (1495-99), de Leonardo da Vinci, um tipo de "Mona Lisa" do segundo escalão, enviado pelo Louvre de Paris, é uma delas; outra é o retrato de George Washington feito por Gilbert Stuart, em 1822, e que faz parte da coleção permanente daqui. (É de propriedade do Louvre Abu Dhabi.) Há também a imagem imponente que Jacques-Louis David fez de Napoleão Bonaparte atravessando os Alpes, passando uma impressão muito distante, tanto física como psicologicamente, em relação à sua casa, em Versalhes.
O quadro se integrou devidamente ao grupo temático, mas para alguns – e, na idade da internet, provavelmente para um número cada vez maior – ele é um astro do rock.
Em suma, o Louvre Abu Dhabi fracassa onde a maioria, se não todos, os museus de arte enciclopédicos também falham: revelando a verdade, tanto presente como passada. Nos comunicados de imprensa e anúncios, a instituição promete ser "um museu para todos"; mostrar "a humanidade sob um novo ângulo"; incorporar uma "abertura que reflita o ambiente tolerante e acolhedor" da sociedade local. Acontece que os grupos de direitos humanos internacionais criticaram o governo de Abu Dhabi pelo mau tratamento dispensado aos operários imigrantes que trabalharam nos projetos da Saadiyat Island.
Durante a primeira semana de funcionamento do museu, dois jornalistas suíços que filmavam os peões como parte da cobertura da inauguração, foram detidos, interrogados, forçados a assinar uma "confissão" e depois, expulsos do país. Há anos aqueles que batalham pelos direitos dos trabalhadores do setor da construção ou têm sido proibidos de entrar em Abu Dhabi, ou são deportados.
Uma volta pelo complexo Nouvel, com as sombras luminosas e as paisagens marinhas suavizadas pela brisa são um encanto, e quase fazem a gente esquecer a cruel realidade física e social exigida para erguê-lo. E a beleza das diversas galerias, cheias de objetos carismáticos, quase o convence a não se lembrar de que a arte é um registro de crimes, tanto quanto de conquistas benignas. É preciso exercitar um equilíbrio ético para aproveitar de verdade nossos grandes museus, atravessar a ponte frágil que eles constroem entre a estética e a política. Uma visita atenta ao Louvre Abu Dhabi exige essa firmeza. E talvez seja essa sua característica mais universal.
Louvre Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos; louvreabudhabi.ae.
Por Holland Cotter