Pedro Gonzaga
Quando eu era pequeno, aterravam-me as grandes catástrofes. Carl Sagan caminhando por uma praia pálida, tendo ao fundo o último dia em que o sol, já então uma estrela morta, brilharia sobre a Terra. Ou o inverno nuclear naquele filme O Dia Seguinte. O terror individual, com suas motosserras e facões, entediava-me. Eu nunca andaria mesmo por cemitérios, castelos góticos ou campings americanos. Um novo meteoro, como o que teria extinguido os dinossauros, isso era diferente. Minha mãe conta que certa feita me pegou chorando diante de um Globo Repórter que projetava a guerra total entre Estados Unidos e União Soviética. Devia ser o medo do menino com a ideia do fim. Ou quem sabe, tudo considerado, com um evento que se abatesse sobre todos de uma só vez, e não aos poucos, como o adulto viria a descobrir, em implosões controladas, cruelmente incapazes de produzir o caos, como a morte de Carl Sagan, o desmantelamento da União Soviética, a consumição de meus familiares. Por vezes, penso que só o Globo Repórter, há muito convertido em estripulias de bichinhos e lugares paradisíacos, com um holográfico Sergio Chapelin, resistirá a todos nós.
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