Paulo Gustavo é o exemplo vivo de por que o cartaz "não temos wi-fi, conversem entre si" é papo furado: superconectado, o humorista carioca de 38 anos pratica com tranquilidade o malabarismo social, conciliando a atenção entre o telefone e a conversa – e olha que ele fala pelos cotovelos. Sua vida envolve o diálogo com milhões de seguidores nas redes sociais, mesas de bar com Anitta, vídeos hilários no Instagram, gravidez planejada com o marido e espetáculos para milhares de pessoas – além dos números impressionantes no cinema, como a recente venda de quase 10 milhões de ingressos para o filme Minha Mãe É uma Peça 2 (2016). Entrevistas, em meio a isso? Ele faz por mensagens de áudio via WhatsApp.
Sem parar um segundo, o comediante chega ao Rio Grande do Sul para uma maratona de quatro apresentações de seu novo espetáculo, Online, que trata exatamente do cotidiano insano que a internet inaugurou. Serão três apresentações no Teatro do Sesi, entre quinta e sexta, e uma na Feevale, em Novo Hamburgo, no domingo.
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– Gosto de usar o humor para falar sobre coisas do cotidiano – diz, em mensagem de áudio enviada pelo telefone.
Na montagem, Gustavo interpreta a si mesmo – mas não como em Hiperativo, que era um stand-up típico, com o humorista de cara limpa conversando com o público: em Online, ele "encarna" Paulo Gustavo, comediante que não consegue trabalhar porque é interrompido por repórteres, amigos, fãs, sua analista e até um ladrão. No palco, ele contracena com outros sete atores – Aldo Perrotta, Danilo Sacramento, Lucas Drummond, Ana Terra Blanco, Flávia Reis, Izabella Bicalho e Pia Manfroni. Além de atuar, o maior fenômeno do humor brasileiro recente é responsável pelo texto e pela direção do espetáculo, que tem figurinos de Fause Haten, música de Zé Ricardo e coreografa de Renata Guanabara.
Em uma troca de mensagens de áudio, Paulo Gustavo falou à reportagem de ZH sobre a hiperconectividade dos dias atuais e a geração que "trouxe um público jovem" ao teatro para ver a nova comédia nacional.
Em Online, você aborda principalmente a relação das pessoas com as redes sociais e os smartphones. Você também se considera viciado em internet?
Sou uma pessoa totalmente conectada, fico no celular o dia inteiro, pago conta, faço compra, peço comida, alimento Facebook, Instagram, Snapchat... Estou totalmente mergulhado no universo da internet. Acho estranho falar “viciado em internet” no momento que a gente vive, em que é necessário estar com o celular na mão, mas sou viciado, sim. Minha vida está ali. Se eu perder meu celular, fico desesperado, acabou minha carreira.
Você despontou no ápice do sucesso do stand-up, mas faz um humor diferente, que tem mais a ver com costumes e personagens. Há espaço para todos os tipos de humor?
Há espaço para todo mundo. Identifico-me com o humor do Chico Anysio, do Renato Aragão, de personagens, mas sei também fazer o humor de texto. Anos atrás, toda essa gente já fazia stand-up: Costinha, Ary Toledo, Jô Soares... E agora veio essa nova leva, que trouxe um público jovem, que não ia ao teatro. Adoro todos os humoristas da minha geração: Tatá Werneck é um gênio, amo Samantha Schmütz, Marcos Veras... Todos eles! Teria que botar no Google "comediantes brasileiros da minha geração". Amo todos, somos amigos, nos encontramos para beber e conversar.
Você é bastante identificado com o Rio de Janeiro. Seus shows são recebidos de forma diferente de acordo com a cidade em que são apresentados?
Não estou sendo piegas, mas recebo muito carinho em todos os lugares. Fico emocionado. Minhas peças têm uma assinatura: é meio show, então é sempre uma gritaria, aplausos, emoção. Estou fazendo teatro sem parar há 12 anos, considero-me um homem de teatro, mas, quando viajo e vejo essas plateias enormes... Sou eternamente grato ao teatro e ao meu público, por isso sempre procuro fazer algo incrível, à altura do carinho que recebo. Penso no cenário, no figurino, em cada palavra que vou falar, para que, na hora que a cortina abrir, eu possa fazer todo mundo sair dali transformado: feliz, leve, pronto para tomar uma caipirinha... Ou um gim, já que o gim está na moda, é uma bebida zero calórica!
Paulo Gustavo em Online
Quinta, às 21h30min, e sexta, às 19h e às 21h30min.
Teatro do Sesi (Assis Brasil, 8.787).
Ingressos: para hoje, estão disponíveis apenas os bilhetes de plateia alta, a R$160. Desconto de 10% para os sócios do Clube do Assinante.
Em Novo Hamburgo, a apresentação será domingo, às 19h, no Teatro Feevale (ERS-239 – Campus II da Feevale).