O cinema deve encantar e divertir as pessoas. De boas intenções e bons temas o inferno cinematográfico está cheio. Mas isso não impede que um filme, depois de cumprir sua função primária, sirva para que o espectador reflita sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca.
A mostra de abril do Cine Santander Cultural é um painel do cinema contemporâneo ligado a temas sociais e ambientais. Também é uma aposta na conscientização de cada indivíduo – no caso, cada espectador – como primeiro passo para ações políticas em grupo. Se as grandes utopias de salvação coletiva estão moribundas, que pelo façamos as uniões estratégicas locais para enfrentar nossos dilemas cotidianos.
A luta da AMACAIS (Associação Amigos do Cais Mauá) para fazer valer sua visão do futuro de Porto Alegre é um excelente exemplo de consciência cidadã e combativa. Voltando à mostra: são 15 longas, de 11 países diferentes, que olham o mundo sob pontos de vista não tradicionais e solicitam ao público que, além de sair da zona de conforto do consumismo capitalista sem limites, perceba que esse suposto conforto está acabando rápido, à medida que esgotamos insanamente, agora com a benção diabólica de Trump, todos os recursos disponíveis.
Um desses filmes é o documentário islandês Inssaei: O Poder da Intuição, das diretoras Hrund Gunnsteinsdottir e Kristin Ólafsdóttir. Essas duas mulheres de nomes impronunciáveis fizeram um filme que todo mundo entende e que, caindo em terreno minimamente fértil, pode produzir uma nova perspectiva para a interpretação do mundo.
Insaaei defende que tanto a arte quanto a ciência precisam considerar a intuição humana como uma força prodigiosa e ainda subaproveitada. A ciência coloca a intuição como uma espécie de ponto de partida para o pensamento racional, enquanto a arte comumente a trata como inspiração irracional.
Insaaei mostra que a intuição pode estar presente nas conclusões, e não nas hipóteses, das melhores pesquisas científicas, ao mesmo tempo que atravessa, mesmo que o artista não perceba, suas obras mais perenes. Assista aos filmes da mostra, acompanhe suas belas imagens e ouça vozes que não estamos acostumados a ouvir. Minha intuição diz que vale a pena.