Se você tem ideia do que seja uma ymbryne, um etéreo ou uma fenda temporal, certamente já leu O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares, do escritor norte-americano Ransom Riggs – ou viu o filme baseado na obra, que chegou aos cinemas no ano passado. Se não sabe do que se trata, pare por aqui e vá ler o primeiro livro antes de prosseguir. Isso porque é preciso estar por dentro do Lar (ou do Orfanato, conforme as primeiras versões publicadas no Brasil, cinco anos atrás, antes das reedições estimuladas pelo filme) para entender Cidade dos Etéreos (Intrínseca, 384págs., R$ 49,90), o livro II da série.
Embora ainda bem atrás do primeiro volume, Cidade dos Etéreos já vem figurando nas listas de mais vendidos, e não é por acaso: o livro traz o mesmo universo peculiar da história inicial – com o perdão do trocadilho, mas "peculiar" é mesmo a palavra exata aqui. Para recordar, no volume inicial Jacob Portmann, um adolescente de 16 anos traumatizado com a morte horrível do avô, viaja para uma ilha remota na costa do País de Gales para conhecer o orfanato onde Abe, o avô, foi criado. Na infância, ele sempre ouvia as histórias do velho sobre os amigos que tinha lá: um menino invisível, uma menina que flutuava, outra que fazia o fogo brotar das mãos. Embora não acredite mais nesses relatos, ele vai fazer uma descoberta que mudará seu modo de ver o mundo e a si mesmo.
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O segundo livro começa onde o primeiro parou – e aqui vêm os spoilers para quem não leu O Lar da Srta. Peregrine. Estamos em 3 de setembro de 1940 (lembram da fenda temporal citada lá no início?), e dez crianças afastam-se da ilha em três pequenos barcos. O orfanato (ou lar) em que elas viviam foi destruído, e a Srta. Peregrine está presa no corpo de uma ave. E embora as ymbrynes tenham o poder de transformar-se e destransformar-se em aves, a guardiã desses peculiares por algum motivo não consegue mais voltar a ser ela mesma. Para tentar salvá-la, Jacob, sua amada Emma (a menina com poder de produzir fogo e que namorou Abe no passado), Millard (o estudioso menino invisível) e os outros peculiares – Olive, Bronwyn, Horace, Enoch, Hugh, Claire e Fiona – embarcam em uma aventura que vai passar por outras fendas temporais, até chegar a Londres, onde esperam encontrar outras ymbrynes. Devastada pela guerra – lembrem-se que em 1940 estávamos em plena 2ª Guerra Mundial –, a cidade é perigosa também por outros motivos, como a elevada presença dos etéreos (monstros que gostam de devorar peculiares) e de acólitos (inimigos dos peculiares). No caminho, eles encontram também ajudas inesperadas e conhecem outros peculiares, incluindo alguns bem interessantes – e qual peculiar não é, aliás?
Não dá para esquecer de outra característica já presente no livro I e que se repete no II: as incríveis fotografias antigas que ilustram o texto e deixam aquela impressão de "nossa, parece verdade", por mais inverossímil que seja a trama. Aliás, o autor, numa entrevista que é um dos extras no final de Cidade dos Etéreos, conta que a história do Lar foi surgindo a partir de fotografias que ele coletava; para a continuação, porém, a história veio primeiro e depois ele foi atrás de imagens que ajudassem a "mostrá-la". O livro termina deixando um gostinho de quero mais, e é aí que entra o segundo extra do volume: o primeiro capítulo, e as primeiras fotos, de Biblioteca das Almas, que encerra a trilogia. O que, é claro, só aumenta a vontade de saber como tudo termina.