Erick Endres tinha 14 anos quando lançou seu primeiro disco, uma carta de amor para Jimi Hendrix e John Frusciante chamada simplesmente Erick. Três anos depois, Falling mostra que ele continua acomodado nos ombros de gigantes da experimentação, mas com um olhar cada vez mais próprio.
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– Para mim, existe um abismo entre um trabalho e outro – explica Endres. – Sinto-me muito mais maduro em todos os aspectos. Gosto muito do meu primeiro disco, gosto da autenticidade, talvez eu pensasse menos antes de fazer as coisas. Mas, no geral, sim, me sinto muito seguro para experimentar outras coisas.
Essa segurança se traduz bem na variedade de temas que o disco explora. Enquanto o début era baseado na necessidade de Endres botar para fora de maneira quase catártica, ansiosa até, tudo o que havia entrado pelos seus ouvidos até então, este segundo apresenta o artista mais focado em burilar suas influências e com um expressivo desejo de se comunicar.
Numa primeira audição, percebe-se de cara que Endres passou os últimos anos com sua bússola psicodélica apontada para outras e saudáveis direções – ecos da fase Sgt. Peppers dos Beatles, por exemplo, podem ser ouvidos logo na faixa que abre o EP, Mystique goddess of simplicity and love. Só que, logo na sequência, Gypsy mars vai para outro caminho, uma levada entre circense e cigana, cantada em francês e temperada por guitarras pesadas.
Afinal é talvez o corpo estranho de Falling. É uma balada pop oitentista, com letra em português, que lembra um Paralamas do Sucesso ou Lulu Santos em suas melhores fases – mas que definitivamente não se espera encontrar em um disco de um fã confesso de Jack White. O EP fecha com She looks like art, um eletrorock no melhor estilo Garbage, sujo e denso.
Da mesma forma que em sua estreia, Endres fez quase tudo sozinho, em um processo solitário avesso a sua personalidade normalmente gregária, de quem divide-se em dois para tocar com as bandas Comunidade Nin-Jitsu (grupo do pai Fredi e do tio Nando), Dis Moi, Endres Experience, No More Notion, The Mob (banda de funk instrumental) e o músico Arthur de Faria na Orkestra do Kaos.
– Em Falling, há uma música em que um amigo, Bruno Bernardo, gravou a bateria. O restante, todos os instrumentos, quem gravou fui eu. Não foi uma escolha, na verdade: foi só pelo fato de eu compor muito enquanto gravo. E gravo quase tudo em casa. Então vou arranjando, experimentando e gravando, tudo no seu tempo.