Os jornais costumam ter prontos obituários de pessoas famosas que possam morrer a qualquer momento. Mesmo tendo 85 anos e episódios recentes de internações em hospitais, a morte de Cauby Peixoto, domingo à noite, em São Paulo, parece ter pego a todos de surpresa. Simplesmente porque o cantor ainda estava em atividade, gravando disco após disco e fazendo shows sem parar – o último, 120 Anos de Música, ao lado de Ângela Maria, teve a turnê nacional interrompida no dia 9 de maio, quando Cauby foi internado com pneumonia.
Na memória dos fãs atuais, que sempre lotaram os teatros para ouvi-lo, fica a imagem recente dele cantando sentado, com o mesmo figurino glitter, a mesma peruca cacheada dos últimos tempos, a mesma voz que o tornou um dos mais populares e inconfundíveis artistas da história da música brasileira.
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Nascido em Niterói em 10 de fevereiro de 1931, em uma família de músicos, Cauby conheceu o sucesso já no início da carreira, ao gravar em 1956 o samba-canção Conceição. Mas ele deixou muitas marcas. Um ano depois, foi o primeiro a gravar um rock em português, Rock’n’roll em Copacabana. No auge da chamada “era de ouro do rádio”, foi o cantor que mais apareceu nas capas das revistas especializadas, foi o primeiro ídolo jovem do país, primeiro a provocar histeria das fãs – como Sinatra e Elvis nos EUA, e pouco depois os Beatles na Inglaterra. Seu empresário encomendava para ele ternos mal costurados, para que fossem facilmente despedaçados enquanto se desvencilhava do assédio das garotas na saída dos programas de auditório. Mas não fazia o tipo “machão”, como os cantores da época.
Mesmo que a canção romântica fosse o seu forte, ele sempre mesclou-a com outros estilos e tinha a admiração dos compositores que renovavam a música brasileira, como Tom Jobim, que em 1962 deu a ele a primazia da gravação do futuro clássico Samba do Avião. Embora nunca tenha passado mais do que três ou quatro anos sem lançar discos, na década de 1970 Cauby viveu um ostracismo radiofônico, causado pelos nomes novos que ocupavam quase todos os espaços. A volta por cima veio em 1980, com Cauby! Cauby!, álbum com repertório diferente do que costumava cantar – músicas inéditas de Caetano, Roberto, Gonzaguinha, Chico Buarque (autor de Bastidores, que se tornaria outra canção-símbolo). O álbum foi produzido pelos gaúchos Tarso de Castro e Luiz Carlos Maciel. No lançamento, Cauby lotou por semanas o chiquérrimo Golden Room do Copacabana Palace.
Com 50 anos de idade e 25 de carreira, ele moldou a voz para tons mais baixos, ficando ainda mais aveludada. Ainda na década de 1980, mudou-se para São Paulo, lançando um disco a cada dois anos e reafirmando a condição de ídolo com fãs de todas as idades. Seus discos mais recentes são O Mito – 60 Anos de Música (2011), caixa com três CDs, Reencontro (2013), com Ângela Maria, Cauby Sings Nat King Cole (2014) e A Bossa de Cauby Peixoto (2015), todos com esmerada produção, tratando o eterno astro como um artista de hoje, e não como representante da velha guarda. E assim estava, quando veio a morte. Morre o homem, fica a lenda.