– Já procurei alguns gurus, contrariando a máxima de que o mestre aparece quando o discípulo está pronto. Meu mestre apareceu na forma do Snapchat da Anitta.
A afirmação é de Edu K, figura clássica do rock gaúcho, produtor e DJ renomado, ex-participante de reality show e vocalista do DeFalla. E foi dita sem qualquer sinal de ironia. Aos 47 anos, o músico parece realmente ter encontrado o sentido da vida nos desabafos da funkeira carioca.
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– Ela falou que há um ano estava pirando, enlouquecida, e que as coisas começaram a acontecer de um jeito maravilhoso quando ela passou a se permitir. Isso é muito foda! – empolga-se.
Dessa busca, descrita por Edu como "um senso de psicodelia zen", nasceu o novo disco do DeFalla. Três décadas após os emblemáticos Papaparty (1987) e It’s Fuckin' Borin' to Death (1988), das incursões por hard rock, hip hop, emo e funk carioca e de um hiato que durou praticamente toda a década de 2000, Monstro, que tem lançamento nesta sexta nos canais de streaming, devolve (mais uma vez) ao DeFalla a inventividade e a inovação que sempre lhe foram características.
– Monstro é um disco sobre a busca pela espiritualidade dentro da monstruosidade moderna. Falamos de violência, agressividade, relacionamentos humanos, psicopatia geral, deste caos que é monstruoso e maravilhoso ao mesmo tempo. Apostamos no excesso de informação. O negócio é semear a cabeça da galera com um monte de influências e ideias – filosofa Edu K, em um discurso que parece ilustrado pela capa do disco, uma pintura do artista gráfico Jaca, um ser cabeludo em meio a uma profusão de elementos aleatórios.
Monstro começou a surgir em 2011, quando a banda se reuniu para tocar seu primeiro disco na íntegra em Porto Alegre – o citado Papaparty –, pelo projeto Discografia do Rock Gaúcho. A apresentação seria a primeira em 20 anos reunindo Edu K, Castor Daudt, Flu e Biba Meira. No primeiro ensaio, a sensação geral era de que "os quatro tinham tocado no fim de semana anterior", diz o vocalista. A sinergia estimulou a banda a pensar em um novo disco – eles preferem não falar em volta, já que a banda nunca acabou oficialmente.
"Obsessivo pela pureza da espontaneidade", Edu K enfurnou-se em um estúdio com a banda por quatro dias, e apenas tocaram, apostando que o laboratório renderia os riffs, as batidas e as letras que buscava. Gravadas por Edu K, Biba Meira (bateria), Castor Daudt (guitarra) e Carlo Pianta (que dividiu o baixo com Flu), as 11 faixas – e três vinhetas – vão do funk metal que o DeFalla ajudou a construir, em músicas como Zen Frankestein e Fruit Punch Tears (In the Treasure Hunt), à psicodelia rocker de bandas como Happy Mondays e Stone Roses, especialmente na "trilogia lisérgica" formada pelas faixas Aldous Huxley, Ken Kesey e Timothy Leary, que homenageiam os papas da psicodelia.
– Este disco faz as pazes com quem é fã dos dois primeiros discos e odeia o que veio depois, mas também abre as portas para novos fãs, porque é um disco pop. O DeFalla tem muito disso, somos autorais, temos nossa personalidade, mas fazemos um som pop. Há 30 anos, isso era difícil de ser assimilado, hoje não é mais. Ninguém vai dizer "que porra é essa?" – diz Edu K,resumindo: – É um disco que faz a ponte entre o DeFalla dos dois primeiros discos e o DeFalla de agora, sem negar toda a água que passou por baixo.
Ouça o novo disco do DeFalla, Monstro, na íntegra: