É um exercício interessante comparar Vingadores: A Era de Ultron, lançado no ano passado, com Capitão América: Guerra Civil, o filme que estreia esta semana trazendo o nome de um dos heróis no título mas servindo quase como um terceiro filme dos Vingadores, dado o grande número de heróis em cena. Era de Ultron sucumbiu a um sem número de pressões e compromissos que tiraram de cena o grande nome da primeira fase da Marvel, o diretor Joss Whedon. O resultado final foi uma decepção, um filme que, apesar de agregar novos elementos ao já superlotado universo da editora no cinema e contar com um vilão de grande potencial, terminou flácido e disperso, com a espinha dorsal esmagada pelas exigências impostas pelo estúdio: preparar a nova fase, apresentar novos personagens, lançar as bases para futuros filmes e ainda ser um entretenimento interessante. O que é surpreendente é que Guerra Civil, sob a batuta dos grandes destaques da atual fase cinematográfica da Marvel, os irmãos Anthony e Joe Russo, consiga lidar com basicamente as mesmas exigências, cumpri-las e ainda ser um filme que equilibra, em crescendo, ação, humor, drama e um clima de produção internacional de espionagem, tudo isso em um filme de super-herói (que desde já se alinha entre os melhores produzidos com personagens da editora no cinema).
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Guerra Civil empresta o nome e parte de seu conceito de uma série de histórias publicadas ao longo de 2006, de autoria do escocês Mark Millar e com desenhos de Steve McNiven. Na HQ, após uma ação de um grupo de jovens heróis terminar de modo desastroso e com vítimas na casa das centenas, o governo dos Estados Unidos decide arrogar para si a responsabilidade de controlar os super-heróis e aprova uma lei obrigando todos os aventureiros superpoderosos a revelarem suas identidades secretas e a trabalhar oficialmente para o Estado, a exemplo de policiais comuns. Tony Stark, o Homem de Ferro, é um dos entusiastas do projeto. O Capitão América é um ferrenho opositor, e o choque entre as duas facções é inevitável. Na época, a saga em quadrinhos era um comentário nada sutil sobre as medidas de exceção tomadas pelo governo de George W. Bush para combater o terrorismo. Em um novo contexto e sem que a questão da identidade secreta seja de fato um tema da Marvel no cinema (o Tony Stark de Robert Downey Jr. revelou a sua para a imprensa já no fim do primeiro filme do Homem de Ferro, em 2008), o argumento é adaptado e divide espaço com uma segunda linha narrativa, assemelhada um thriller clássico de espionagem, com ações em várias cidades ao redor do mundo.
No filme, os Vingadores, após uma ação que acaba mal, se veem constrangidos pelas Nações Unidas a se tornarem um grupo oficial sob a chancela da comunidade internacional. Inventor do Ultron que quase destruiu o mundo e efetivamente arrasou um pequeno país do leste europeu, o Homem de Ferro apoia a ideia. Um ex-colaborador da Shield que se descobriu trabalhando para seus piores inimigos, o Capitão América (Chris Evans) é contra, e em volta de ambos se organizam os demais Vingadores presentes no filme, como Viúva Negra (Scarlett Johansson), Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), Visão (Paul Bettany) ou Falcão (Anthony Mackie). A divergência se complica depois que Bucky, o grande amigo do Capitão América durante a II Guerra e agora o terrorista procurado Soldado Invernal (Sebastian Stan) é implicado em um atentado terrorista e se torna o alvo de uma caçada humana que exacerba ainda mais a tensão entre as duas facções. À medida que o conflito escala, outros personagens vão se agregando à trama e tomando partido, como o Homem-Formiga (Paul Rudd) ou os recém-chegados Pantera Negra (Chadwick Boseman) e Homem-Aranha (Tom Holland).
Guerra Civil é um filme sobre lealdades e consequências. Mesmo com tantos personagens, há espaço para um mistério subjacente que remonta à época do Soldado Invernal como espião a serviço da Hidra – e que se liga aos planos de um misterioso personagem vivido pelo ótimo ator germânico Daniel Brühl, fazendo o que pode em pouco tempo de tela. O centro da narrativa, contudo, não está em seu convoluto plot, sobre o qual não se falará mais para não entregar demais algumas das reviravoltas do enredo. O que torna este um filme peculiar no conjunto das ficções de super-heróis no cinema é como, apesar da escala grandiosa que joga os personagens uns contra os outros e semeia referências a filmes passados e a projetos futuros, o centro da narrativa permanece surpreendentemente doméstico – os heróis se dividem porque cada um tem uma opinião sobre uma questão crucial: quais níveis de autonomia e responsabilidade são aceitáveis de seres superpoderosos que se assemelham, como Stark diz a certa altura, a "armas de destruição em massa". Nenhum lado está necessariamente errado, já que os argumentos de parte a parte são convincentes, mas tanto o Homem de Ferro quanto o Capitão América têm razões altruístas e egoístas para defender seus pontos de vista, e elas se alternam à medida que o conflito escala na tela. O fato de que ambos são amigos fraternos em um conflito ideológico de proporções desastrosas também é um elemento que dá força ao conjunto.
O filme dos irmãos Russo ainda consegue ser um dos mais inventivos no quesito ação e lutas coreografadas (é um blockbuster de heróis, no fim das contas). Também não abre mão do humor que caracteriza os filmes da Marvel – e que, na opinião do autor deste texto, coloca suas produções em vantagem contra a concorrente DC e seu tom mais sombrio, algo fácil de avaliar em comparação com o soturno e recente Batman VS Superman, que também coloca herói contra herói e tem ao menos um elemento narrativo bem semelhante. Diferentemente do filme de Zack Snyder, contudo, o filme dos Russo tem um roteiro em que as ações vão se sucedendo em consequência das decisões anteriores de seus personagens, e não da vontade do diretor de torcer a trama para seus propósitos. Guerra Civil se torna, assim, uma obra que alça as expectativas para o futuro da editora, principalmente nos filmes que devem apresentar novos personagens recém inseridos no universo do cinema, como o Pantera Negra, o Homem-Aranha e o Doutor Estranho de Benedict Cumberbatch, um dos próximos da lista.
Retomando a comparação lá do início, Guerra Civil é um filme sólido o bastante para não se quebrar nos mesmos pontos em que A Era de Ultron se partiu em pedaços.
Horários de CAPITÃO AMÉRICA: GUERRA CIVIL nos cinemas de Porto Alegre nesta quinta-feira:
CÓPIAS IMAX 3D LEGENDADAS
Cinespaço Wallig 8 (14h10, 17h10, 20h10)
CÓPIAS 3D DUBLADAS
Cineflix Total 1 (13h, 16h, 19h)
Cinespaço Wallig 4 (14h10, 17h10)
Cinemark Barra 2 (15h50, 19h10)
Cinemark Barra 4 (13h40)
Cinemark Ipiranga 3 (13h40)
GNC Iguatemi 4 (13h10)
GNC Praia de Belas 1 (13h10, 19h)
CÓPIAS 3D LEGENDADAS
Cineflix Total 1 (22h)
Cinespaço Wallig 4 (20h10)
Cinemark Barra 4 (17h, 20h20)
Cinemark Barra 5 (17h50, 21h10)
Cinemark Barra 7 (18h30, 22h)
Cinemark Ipiranga 3 (17h, 20h20)
Cinemark Ipiranga 4 (18h30, 22h)
Cinemark Ipiranga 5 (17h50, 21h10)
Cinemark Ipiranga 8 (15h20, 19h10)
GNC Iguatemi 4 (16h, 19h, 22h)
GNC Praia de Belas 1 (16h, 22h)
CÓPIAS DUBLADAS
Arcoplex Boulevard 1 (14h30, 17h30)
Arcoplex Rua da Praia 1 (14h, 16h45, 19h30)
Cineflix Total 4 (13h15, 16h15, 19h15, 21h15)
Cinespaço Wallig 1 (18h50, 20h40)
Cine Victória 1 (13h45, 19h45)
Espaço Itaú 5 (14h)
GNC Iguatemi 3 (15h30)
GNC Lindoia 1 (13h10, 16h, 19h, 22h)
GNC Lindoia 2 (18h30, 21h30)
GNC Praia de Belas 3 (21h50)
GNC Praia de Belas 6 (15h30)
CÓPIAS LEGENDADAS
Arcoplex Boulevard 1 (20h30)
Cine Victória 1 (16h45)
Espaço Itaú 4 (15h, 18h, 21h)
Espaço Itaú 5 (17h, 20h)
GNC Iguatemi 3 (18h30, 21h30)
GNC Iguatemi 6 (21h45)
GNC Moinhos 2 (15h20, 18h20, 21h20)
GNC Praia de Belas 6 (18h30, 21h30)