Desta vez não teve ameaça de apagão, nem o país parando. João Emanuel Carneiro encerrou na noite desta sexta-feira sua terceira novela das nove na Globo sem o sucesso fenomenal de Avenida Brasil (2012), mas conseguiu resgatar – na reta final – os bons índices de audiência do horário. A Regra do Jogo abusou da violência para contar uma história policial e debater os limites entre o bem e o mal, que deveria ter marcado a novela, mas acabou não sendo tão bem entendido.
O último capítulo foi bem previsível, com o protagonista sendo assassinado e virando mártir e a filha sequestrada dando um fim na insanidade do pai. Teve cenas incríveis de ação, mas também teve os clichês, com casamento e bebês.
Com um elenco cheio de estrelas, comandado por Alexandre Nero, Giovanna Antonelli e Tony Ramos, a novela sofreu com histórias paralelas muito fracas. Enquanto a trama principal, que mostrava as relações de pais e filhos – Romero (Alexandre Nero) e Dante (Marco Pigossi) e Zé Maria (Tony Ramos) e Juliano (Cauã Reymond) – na busca por Justiça ou vingança e seus desvios de caráter, rendeu bem, os núcleos secundários poderiam perfeitamente serem excluídos.
Leia mais:
"Velho Chico" usa estética sofisticada para narrar trama rural
A Regra do Jogo: final de tirar o fôlego, mas com poucas surpresas
Se em Avenida Brasil, o núcleo pobre foi um grande destaque, desta vez apenas o trio Merlô (Juliano Cazarré), Alisson (Letícia Lima) e Ninfa (Roberta Rodrigues) conseguiu manter o ritmo até o final.
João Emanuel repetiu a mesma fórmula de seu grande sucesso e padeceu por isso. Mas também foi vitíma do excesso de tramas realistas no horário nobre. Talvez se A Regra do Jogo tivesse entrado na grade após um respiro temático – que acontecerá agora com a estreia de Velho Chico e a volta das tramas rurais –, o resultado pudesse ter sido outro.
Uma das inovações do trabalho, a caixa cênica da diretora de núcleo Amora Mautner funcionou bem, principalmente no capítulo final na cena do acertos de contas entre Zé Maria e Romero.
E, talvez, o grande acerto de João Emanuel não tenha ganhado o destaque que merecia: o debate sobre os limites da ética e do bem e do mal. Em resumo, a novela mostrou que muitas vezes a sede por vingança pode levar uma pessoa a ter atitudes semelhantes às que ela condena nos outros. Um bom tema para o atual momento do país que passou despercebido em meio à violência excessiva da trama.