Já era esperado que a nova novela das nove chegasse com uma estética totalmente diferente da anterior. O que ninguém imaginava é que texto e fotografia casariam tão bem. Velho Chico trouxe o que de melhor Benedito Ruy Barbosa e Luiz Fernando Carvalho poderiam dar ao público. E trouxe um pouco mais: devolveu Rodrigo Santoro aos folhetins brasileiros. Em resumo, a estreia teve um alívio temático, muitas cores e um elenco de primeira muito bem conduzido por um diretor de primeira linha.
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A intenção da Globo é oferecer uma trama que propicie uma fuga da realidade, algo que há 13 anos não acontece no horário nobre. Com isso, a história do embate entre o coronel Jacinto de Sá Ribeiro (Tarcísio Meira) e o capitão Ernesto Rosa (Rodrigo Lombardi) na disputa por terras e poder no sertão nordestino na década de 1960 foi um grande acerto. Enquanto os dois travam a briga em Grotas, o filho de Jacinto, Afrânio (Rodrigo Santoro), curte a vida na Capital. Boêmio confesso, ele curte festas, bebida e a tórrida paixão por Iolanda (Carol Castro) sem se preocupar com mais nada.
Essas três histórias foram apresentadas neste primeiro capítulo. Além delas, o público também conheceu Belmiro (Chico Diaz) e Piedade (Cyria Coentro), dois sertanejos que lutam para manter a produção em meio à seca. A violência exacerbada da facção deu lugar ao amor e aos problemas do Brasil profundo.
Tudo isso envolto em uma estética de cinema, com fotografia cheia de cores e uma trilha sonora que homenageia a Tropicália – tem Caetano Veloso na abertura e Maria Betânia. Ou seja, tudo muito distante da favela, do funk carioca e dos tons soturnos de A Regra do Jogo.
Para coroar a boa estreia, ainda teve um Santoro maduro em cena. Um talento que fazia falta para as novelas brasileiras. Sem contar nos consagrados Tarcísio, Chico Diaz, Rodrigo Lombardi, Fabíula Nascimento e Selma Egrei, que elevaram o nível do bom texto de Benedito, e na boa surpresa que foi a atuação de Carol Castro.
Podemos - e devemos - esperar mais de Velho Chico. Não só esteticamente, mas na trama. Benedito não deve ficar apenas falando de amor, vai também abordar problemas sociais do Brasil e trazer debates importantes, sem precisa apelar para o excesso de violência. A aposta da Globo tem tudo para dar certo.