A história moderna do Brasil poderia ser contada pelas máscaras usadas no Carnaval por foliões de rua que se travestem de personagens da política com o propósito de homenagear ou ironizar a vida real. Neste ano, ao que tudo indica, o campeão de audiência será o Japonês da Federal, como ficou conhecido o policial Newton Ishii, que ganhou notoriedade por escoltar vários presos da Operação Lava-Jato. Em anos recentes, vale lembrar, destacaram-se, entre outros, o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa, a ex-presidente da Petrobras Graça Foster, além dos últimos ocupantes do poder - Lula, em todas as suas versões, e Dilma, com todos os seus penteados. Figuras do momento, o juiz Sergio Moro e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também estarão bem representados neste Carnaval.
Ao contrário das máscaras carnavalescas originais, que serviam para ocultar o rosto dos foliões e permitir que eles cometessem transgressões sem serem identificados, as fantasias de políticos e autoridades são usadas com o propósito de expô-los ao julgamento público, quando não à execração. A máscara tem também um efeito psicológico sobre quem a veste. O homem primitivo se disfarçava de tigre ou crocodilo imaginando que assim assumiria a força e a ferocidade do animal escolhido, ou que pelo menos passaria essa impressão ao inimigo. Já o folião que bota a máscara do político ou do governante espertalhão está querendo dizer que aquele é o inimigo a ser ridicularizado. Porém, quando assume a identidade de um justiceiro, sente-se o próprio. Sempre há uma máscara por detrás da máscara.
Na verdade, todos usamos máscaras cotidianas, ainda que não sejam visíveis como as fantasias. Fazemos isso intuitivamente, para nos proteger, para sermos bem-vistos pelos outros, para não criarmos atritos desnecessários. Nem sempre é hipocrisia. Muitas vezes é uma exigência do teatro da vida.
Mas há também os que se excedem na representação, com o propósito de enganar os outros e obter vantagem pessoal. Esses, invariavelmente, viram máscara de verdade. E às vezes até correm o risco de ter que desfilar ao lado do Japonês da Federal.
Leia mais colunas de Nilson Souza