- Siga comigo o caminho das nuvens - convida a moça do tempo, mostrando um mapa multicolorido do Brasil com desenhos de sóis e chuviscos espalhados por todas as regiões.
O apelo é irresistível. A previsão meteorológica virou uma atração mundial da televisão desde que os programadores se deram conta do interesse das pessoas pelas variações climáticas. Todos duvidam, todos desconfiam, todos ridicularizam os previsores, mas não há quem não preste atenção.
Por quê? Minha tese: acompanhar o vaticínio é uma maneira de darmos uma espiadinha no futuro. Mais do que isso, quando conferimos se o dia de amanhã será ensolarado ou nublado, estamos antevendo um cenário do qual seremos protagonistas. Não se trata simplesmente de programar a roupa que iremos vestir no dia seguinte ou se teremos de carregar guarda-chuva. Trata-se, isto sim, de apostar que estaremos presentes no futuro para conferir o prognóstico.
E para criticar. Os meteorologistas mais prudentes não se cansam de avisar que é previsão - e não precisão -, mas ninguém perdoa quando eles erram. O percentual de acertos atualmente chega a 90%, mas os 10% de equívocos costumam ser superdimensionados pelos profetas do acontecido, que somos nós. Ainda que o clima planetário seja reconhecidamente caótico, a culpa é sempre do previsor, nunca da própria natureza.
Mesmo assim, esses arautos das intempéries conquistam prestígio e admiração. Alguns se transformam em verdadeiras celebridades. E as emissoras de televisão investem no quadro, criando cenários cinematográficos e apostando em personalidades diferenciadas. Como essa moça bonita e simpática, que me convida a seguir com ela pelo caminho das nuvens.
Sigo, com o espírito crítico aguçado, pensando que no dia seguinte terei a oportunidade de cobrar-lhe coerência. Doce ilusão. Amanhã, como uma Sherazade moderna, ela contará outra fábula do tempo e todos acreditaremos, encantados pela profecia sobre desconhecido.