O pouco que sei de italiano aprendi com minha mulher, que é gringa de São Domingos do Sul, terra do monsenhor João Benvegnu, como ostenta o pórtico de entrada para quem chega de Casca. Em janeiro, tem procissão e festa em homenagem ao pároco falecido há exatos 30 anos e considerado milagreiro pelos fiéis locais. Estive lá na semana passada, matando a saudade de um tempo em que frequentava com mais assiduidade aquele pedaço bonito do Estado, feito de montes verdes, terras férteis, casas com jardins floridos e gente de olhos azuis - descendentes de colonos italianos, alemães e polacos.
Éramos jovens e cantávamos músicas de Sérgio Endrigo, que tinha uma voz linda e ganhou um Festival de San Remo fazendo dupla com Roberto Carlos. A canção que mais me encantava era La Rosa Bianca, tradução de uma poesia monumental do cubano José Martí, que Endrigo também repetia em espanhol. Em português é mais ou menos assim: "Cultivo uma rosa branca/ em julho como em janeiro/ para o amigo sincero/ que me dá sua mão franca./ E para o cruel que me arranca/ o coração com que vivo/ espinhos nem urtigas cultivo/ cultivo uma rosa branca".
Gostava tanto desta música, que uma vez me atrevi a cantá-la durante uma aula de espanhol, na esperança de que a beleza do seu significado fosse suficiente para disfarçar a minha desafinação. Porém, quando terminei, um colega não conseguiu segurar o comentário gaiato:
- Não é que ele foi até o fim...
A plateia riu, mas aplaudiu.
Emocionava-me e emociono-me ainda com a profundidade dessa letra singela, que resume a filosofia de Cristo, Buda e Mahatma Gandhi. Uma rosa branca para o amigo, mas igualmente para o inimigo, uma flor para quem nos quer bem, mas também para quem nos trata mal.
Alguém dirá: pacifismo numa hora dessas? E eu digo: com uma rosa branca, funciona.