Crédito do vídeo: Alendadosvideos / Youtube
Do hotel no Rio de Janeiro, ainda anestesiado pela apresentação no Rock in Rio ao lado do guitarrista Steve Vai, na última sexta-feira, o maestro Jefferson Della Rocca falou sobre a experiência atípica dos músicos da Camerata de Florianópolis.
Depois de seis meses de expectativa e muito ensaio, os catarinenses se apresentaram em uma noite histórica para um público de quase 100 mil pessoas. Alguns músicos retornaram a Florianópolis ainda neste sábado. Della Rocca chega à Ilha no domingo pela manhã. Confira a entrevista:
Vídeo: Primeiro ensaio de Steve Vai com a Camerata Florianópolis
Os grupos catarinenses no Rock in Rio
Como foi a experiência de se apresentar no Rock in Rio com o guitarrista Steve Vai?
Jefferson Della Rocca - Foi muito especial quando entramos no palco e vimos aquela multidão. Antes de entrarmos, chegou o diretor do palco e falou: "só vocês mesmo pra esvaziar o Palco Mundo", porque veio todo mundo que estava lá assistir o show. Olhava e era impossível ver o final da multidão.
Foi a primeira vez que vocês se apresentaram para um público tão grande?
Sim, em shows ao ar livre, antes deste, o maior (público) que nós tivemos foi de 10 mil pessoas. Ontem (sexta-feira), tinha perto de 90 mil pessoas.
Tudo ocorreu conforme vocês tinham ensaiado?
Os ensaios ocorreram de forma maravilhosa. O Steve Vai tem a fama de ser uma pessoa legal e, na hora de trabalhar com ele, você vê isso. Ele consegue ser aquela pessoa que leva até a última a questão do perfeccionismo, mas sempre sendo agradável. Os músicos se sentiram, o tempo todo, motivados a trabalhar com ele, a gente ensaiou por períodos de sete horas seguidas sem achar minimamente cansativo. Foi muito bacana. Ficamos dois dias inteiros ensaiando, almoçando e jantando com ele. Nos bastidores, ele falava: "foi a melhor orquestra com a qual eu já toquei", sendo que ele já tocou com diversas orquestras no mundo todo. Tanto que no final (do show), ele falou para o público, em uma brincadeira, que estava feliz em ter a nova banda dele, que é a Camerata Florianópolis. Quando eu estava saindo do palco, a esposa dele disse que, em 37 anos com ele, nunca tinha sentido uma emoção tão forte. Na última música, o público começou a cantar em coro a melodia. Deu um arrepio do pé até a cabeça ver aquelas 100 mil pessoas cantando. E o Steve olhava pra mim e eu olhava pra ele. Foi incrível.
Deu pra controlar esta emoção toda?
É muito diferente dos concertos que fazemos, onde a música é o papel principal. Quando a gente tem essa interação com o público de uma forma mais direta é muito bacana. E a estrutura do Rock in Rio, a parte técnica, é impressionante.
Houve algum problema, algum imprevisto?
O problema que a gente teve, que não é problema do Rock in Rio, mas de como funcionam as coisas nos festivais, foi a questão da sonorização. Para ser perfeito tecnicamente, precisaríamos de pelo menos sete horas para montar e deixar o equipamento ajustado, além de duas horas para passar o som. Como a gente era o show principal da noite, nosso equipamento foi o primeiro a ser montado e só tivemos uma hora para passar o som. Nosso anjo da guarda foi o técnico Sérgio Cotempo, que conseguiu ajustar tudo, mas ali pela segunda ou terceira música. Quando o Steve Vai faz aquela brincadeira com o violino, os músicos que estavam atrás não conseguiam ouvir o que ele fazia. O público ouvia porque os monitores tocavam o som para a frente do palco. Quem é mais especialista em música, percebeu que até a terceira música ainda não estava bem no ponto a questão de som. Mas isso é a dinâmica por ser festival. Antes de começar estava apreensivo por causa disso, o que eu iria conseguir ouvir de retorno dos músicos, mas depois a gente entra no clima. O Steve Vai incendeia.
Qual foi o momento mais marcante?
O pessoal da banda Brasil Papaya faz a Camerata com a gente todos os anos. Quando fomos chamados, o Steve disse que iria trazer a banda dele para tocar junto. Há dois meses, ele decidiu fazer uma seleção de músicos de alta performance para participar e decidiu trazer só o baterista. Separamos algumas gravações da Brasil Papaya, e o Steve aprovou, mas teve uma grande concorrência. No ensaio, ele gostou tanto do que ouviu que pediu para que eles se apresentassem na frente do palco. Eu fiquei muito feliz quando, na sétima música, o Eduardo Pimental foi fazer aquelas disputas de solos com o Steve Vai na frente do palco. Foi especial.
E qual foi tua impressão pessoal do Steve Vai?
Eu não sou especialista em Steve Vai, conhecia algumas músicas. Sempre reconheci o trabalho dele pela percepção técnica absurda da guitarra. Quando ele toca, parece que é muito fácil, de tanta naturalidade que ele tem. Fiquei impressionado com a qualidade dos arranjos que ele fez. Ao nível de um músico erudito, muito apurado.
E depois do show vocês conversaram, como foi?
Sim, ele falou que adoraria fazer outros shows com a gente. Ficamos de entrar em contato. Quem sabe a gente acaba tocando em Florianópolis juntos novamente?