Se há algo revolucionário no nosso mundo pós-revolucionário, esse algo é a arte de rua. Acostumados que somos à comodidade da internet, consideramos as plataformas digitais o suprassumo do acesso democrático à criatividade, mas esquecemos que metade da população do país não tem acesso à rede. Sem querer opor uma coisa e outra, mas apenas a título de reflexão, a arte de rua dialoga com a população onde ela efetivamente está: o espaço público.
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Estranhas forças querem nos convencer de que o espaço público é perigoso e, por isso, cidadãos de bem - essa entidade de definição escorregadia - devem permanecer enclausurados em seus lares. Daí que o ato de simplesmente estar na rua pareça tão desafiador. A bem da verdade, a arte de rua é subversiva, sim, mas não na acepção perversa que os ditadores de tempos atrás emprestaram ao termo. É subversiva no sentido de nos fazer perceber detalhes da cidade em que, pela força do costume, deixamos de reparar.
A poluição do Arroio Dilúvio, por exemplo. Mais de uma vez, os atores e performers Marina Mendo e Rossendo Rodrigues realizaram a intervenção Ecopoética (em 2014 e em 2015), na qual se penduraram em uma das pontes da Avenida Ipiranga dentro de uma rede cheia de lixo, como se tivessem sido pescados de dentro do Dilúvio. E como não lembrar da performance sensual Ilha dos Amores, da companhia Falos & Stercus (relembre como foi e leia comentário), que espalhou artistas na esquina da Ipiranga com a Borges de Medeiros, em 2013, e um deles chegou a surfar naquela água suja com uma prancha de wakeboard? A arte de rua está aí para lembrar que o espaço público deve ser devolvido a quem pertence: a toda a população.
Relembre como foi a intervenção Ecopoética, com Marina Mendo e Rossendo Rodrigues, neste primeiro semestre:
Veja como foi a performance Ilha dos Amores, do Falos & Stercus, em 2013:
Coluna
Fábio Prikladnicki: uma arte subversiva e perigosa
O colunista escreve quinzenalmente no 2º Caderno
Fábio Prikladnicki
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