Com mais prêmios do que filmes concorrentes, o 43º Festival de Gramado terminou no início da madrugada de domingo pulverizando troféus entre os longas e curtas-metragens exibidos na maratona cinéfila que começou no dia 7 na serra gaúcha. O principal vencedor, Ausência, de Chico Teixeira, era de fato o grande título da principal mostra competitiva do evento. Mas levou apenas quatro troféus, um a mais do que Um Homem Só, filme "de mercado" que marca a estreia em longa da diretora ligada à TV Globo Claudia Jouvin.
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Ponto Zero, do gaúcho José Pedro Goulart, e especialmente O Último Cine Drive-In, de Iberê Carvalho, ambos também estreantes, foram lembrados pelo júri, fazendo justiça a dois dos melhores longas de Gramado 2015 - o som e a montagem de Ponto Zero e o ator Breno Nina, de O Último Cine Drive-In, de Iberê Carvalho, foram duas afirmações do festival. Quem saiu "de mãos abanando" foi o veterano habitué do evento, Murilo Salles, que apresentou na serra gaúcha O Fim e os Meios, um thriller político irregular, mas ainda assim superior a outro longa seu com o qual chegou a ganhar o Kikito de melhor filme (Nome Próprio, em 2007).
Em uma cerimônia de entrega dos Kikitos que começou com 45 minutos de atraso, terminando já na madrugada de domingo, os melhores momentos foram os discursos políticos - do produtor Luiz Carlos Barreto e do escritor Luiz Fernando Emediato em defesa do "Estado democrático de direito, que está ameaçado de golpe", em alusão ao governo federal, e dos realizadores de curtas-metragens, que em uníssono pediram a consolidação da política de editais de cinema no Rio Grande do Sul.
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A safra de longas latino-americanos, ao contrário da irregular amostragem dos longas brasileiros de Gramado 2015, foi boa como um todo. Trouxe ao conhecimento do público que esteve na Serra filmes em geral muito interessantes, porém, de carreira até então tímida em festivais internacionais. É o caso especialmente do mexicano En la Estancia, de Carlos Armella. Veio desta produção à primeira vista esquisita talvez a melhor atuação do festival - de Carlos Barraza, justamente contemplado com o Kikito.
En la Estancia proporcionou, além disso, uma das sessões mais surpreendentes de todo o evento: a trama que começa documental, muda para ficção e ao fim se torna uma reflexão sobre o próprio ato de fazer cinema - entre outras coisas - tira o chão do espectador a todo instante, em uma fruição rica como poucas outras de Gramado 2015.
Outro título conectado com tendências do melhor cinema autoral contemporâneo, o simples e enérgico Venecia, de Kiki Álvarez, sobre um dia na vida de três amigas que trabalham em um salão de beleza em Havana (Cuba), também foi lembrado pelo júri. Entre os longas estrangeiros, só ficou faltando um trofeuzinho para o thriller político uruguaio Zanahoria, de Enrique Buchichio.
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Já o júri de curtas-metragens fez uma boa composição, lembrando os melhores filmes de uma mostra competitiva mais regular: Quando Parei de me Preocupar com Canalhas, de Tiago Vieira, Virgindade, de Chico Lacerda, O Teto Sobre Nós, de Bruno Carboni, e O Corpo, de Lucas Cassales. Da mesma forma, acertou ao contemplar uma dupla de atores de performances acima da média - Giuliana Maria (por Herói) e Matheus Nachtergaele (Quando Parei de me Preocupar com Canalhas).
Os dois principais prêmios entre os curtas, de melhor filme (O Corpo) e direção (Carboni), é preciso ressaltar, ficaram com produções gaúchas. Ambas concebidas e realizadas por equipes que praticamente em sua íntegra são formadas por técnicos de pouco mais de 20 anos - exatamente o mesmo caso de Se Essa Lua Fosse Minha, curta de direção coletiva de alunos da Unisinos que faturou o mesmo prêmio em 2014, dando ao Rio Grande do Sul o principal troféu da mostra de curtas-metragens de Gramado por dois anos consecutivos.
Que sejam atendidos os pedidos reiterados pela não suspensão dos editais que o governo gaúcho destina ao cinema. A da produção local, como se pode ver, tem qualidade comprovada. Tem muito a dizer por meio de seus filmes.