A dupla de roteristas e diretores Olivier Nakache e Eric Toledano levou 40 milhões de espectadores ao cinema em todo o mundo com o sucesso Intocáveis (2011) - só no Brasil, foram 1,1 milhão de pessoas, número impressionante no país para um filme francês. Pois as sessões de pré-estreia quase lotadas em Porto Alegre de Samba (2014), nova produção dos realizadores, sinalizam mais um êxito também por aqui - o filme fez 3 milhões de espectadores só na França. No ótimo longa que entra em cartaz nesta quinta-feira na Capital, Nakache e Toledano repetem a dobradinha com Omar Sy, prêmio César de melhor ator por Intocáveis: ele encarna o personagem-título em Samba, um imigrante senegalês em Paris às voltas com os problemas de sua situação irregular.
O filme é baseado no romance Samba, da escritora Delphine Coulin - editado no Brasil pela Companhia das Letras. Na trama, o protagonista ganha a vida com subempregos, como lavador de pratos e segurança temporário de shopping. Sempre enrolado com as autoridades, o simpático Samba acaba conhecendo Alice (Charlotte Gainsbourg, de Ninfomaníaca), uma executiva estressada que atua como voluntária em uma ONG de ajuda a imigrantes, e um trabalhador ilegal que se apresenta como brasileiro (Tahar Rahim).
Festival Varilux traz obras do cinema francês às telonas brasileiras
Em meados de junho, os franceses Nakache e Toledano estiveram no Rio de Janeiro com a delegação de atores e diretores convidados do Festival Varilux de Cinema Francês. Em entrevista a Zero Hora, os cineastas disseram que inverteram a fórmula em seu oitavo filme juntos: se Intocáveis era uma comédia com drama, Samba agora é um drama com comédia.
- Nós dois temos a mesma sensibilidade com relação ao tema dos imigrantes ilegais na França. O assunto era pesado para nós, mas o livro trouxe essa sincronia entre drama e humor. A imigração mostrada em Samba é uma questão presente hoje no mundo todo. Não é a Paris de Amélie Poulain, por exemplo - disse Toledano.
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Não é apenas no título e no personagem Wilson que Samba lembra o Brasil: a trilha sonora inclui as músicas Palco, de Gilberto Gil, e Take It Easy My Brother Charles, de Jorge Ben Jor. Outro destaque do filme é a qualidade do elenco, em que desponta outra vez o talento de Omar Sy - depois de estourar internacionalmente com Intocáveis, o ator francês já estrelou produções hollywoodianas como X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014) e Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015).
SAMBA
De Olivier Nakache e Eric Toledano
Comédia dramática, França, 118min, 12 anos.
Cotação: 4
Entrevista
Tahar Rahim, ator francês
Ganhador dos prêmios César de melhor ator e revelação masculina por sua impressionante atuação em O Profeta (2009), de Jacques Audiard, Tahar Rahim destaca-se também em Samba no papel do imigrante Wilson. Antes de estourar como ator, o jovem astro de O Passado (2013), de Asghar Farhadi, apareceu na tela como personagem no filme Tahar lÉtudiant (2005), documentário de Cyril Mennegun sobre o cotidiano do então estudante de cinema Rahim. Francês de ascendência argelina, o intérprete de 34 anos veio ao Brasil a convite do Festival Varilux e falou com Zero Hora.
Você fez algum tipo de pesquisa a respeito do Brasil para seu papel em Samba?
O que eu fiz foi me encontrar com um imigrante brasileiro em Paris que estava lá desde os anos 1980, o que lhe permitia falar francês com fluência, mas sem perder o sotaque. Me inspirei no jeito dele. Também tive um treinador para cuidar do meu sotaque. Tive ainda aulas de dança de samba. Tentei mostrar o meu melhor.
Certamente você já era familiarizado antes com a situação dos imigrantes na França.
Não senti que precisasse fazer alguma pesquisa sobre imigração para o filme. Eu já conhecia essas pessoas que não têm documentos. Quando me mudei para Paris, em 2005, trabalhei em clubes, restaurantes e bares e convivi com esses "sambas", esses "wilsons". Já sabia dos problemas deles.
O que mudou na sua carreira depois do sucesso de O Profeta?
Tudo. Foi meu primeiro filme. Eu não poderia imaginar esse sucesso antes. Sabe, não é fácil atingir isso na sua estreia, porque você ainda é um garoto, em certo sentido. Fica difícil escolher que papel fazer depois disso. É muita responsabilidade.