Uma das principais instituições culturais do Rio Grande do Sul, reconhecida internacionalmente por suas atividades e pela arquitetura que fez de sua sede um cartão-postal de Porto Alegre, a Fundação Iberê Camargo (FIC) enfrenta a crise da economia, que está impactando em todo o campo da cultura.
A programação - marcada por grandes exposições internacionais - foi revista neste ano, com reagendamentos e até cancelamentos. Foi o caso da suspensão das mostras em homenagem ao centenário de Iberê Camargo que seriam levadas para Itália, Alemanha e Portugal. Já a retrospectiva no Museu de Arte Moderna do Rio foi confirmada para setembro - é a mesma apresentada no ano passado no CCBB-São Paulo.
Apesar da redução de recursos em torno de 30% (via patrocínios diretos e leis de incentivo), a FIC garantiu a vinda a Porto Alegre de duas grandes mostras neste ano: a do italiano Marino Marini, no primeiro semestre, e a do brasileiro Abraham Palatnik, que passou por outros museus no Brasil e está em cartaz até em outubro.
Ainda no segundo semestre, a FIC apresentará uma exposição com de videoarte do Itaú Cultural - que, em maio, inaugurou uma mostra virtual de Iberê Camargo (veja aqui sites.itaucultural.org.br/bicicletasdeibere). Para 2016, as cinco mostras previstas estão mantidas, mas com readequações e parcerias que envolvem itinerâncias por outras instituições para a divisão dos custos.
Para manter, diante da crise, sua reconhecida qualidade no que apresenta ao público, a FIC interrompeu temporariamente programas como o Ateliê de Gravura - Artista Convidado e a Bolsa Iberê Camargo. O projeto de catalogação da obra de Iberê também foi paralisado. É o chamado catálogo raisonné de todas as pinturas e desenhos, que daria sequência ao volume de gravuras, lançado em 2006. Contudo, o processo de digitalização do acervo de obras e documentos mantido pela instituição segue em curso e deverá ser concluindo ainda neste ano. A seguir, confira entrevista com Fábio Coutinho, superintendente cultural da FIC.
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De que modo a crise impactou na operação da Fundação Iberê Camargo?
Fábio Coutinho - Tivemos uma redução de recursos dos patrocinadores (Vonpar, Itaú, Gerdau, Votorantim, IBM, Intercement). Esse corte varia a cada mês, mas está em torno de 30%. Na programação, estamos renegociando os projetos para dividir custos com outras instituições que também possam receber a itinerância de exposições. Por isso, estamos renegociando o que estava previsto para o ano que vem, pois teríamos exposições de investimento muito grande.
Houve demissões e impacto nos programas?
Coutinho - Tivemos uma redução de 10% no quadro de funcionários. Também houve redução do projeto educativo, que forma professores e traz estudantes para a Fundação. E suspendemos temporariamente a Bolsa Iberê Camargo (programa de residência para jovens artistas em instituições fora do país) e o Ateliê de Gravura - Artista Convidado (que recebe artistas no atelier de gravura). Eles poderão voltar, mas foram paralisados no momento. Também interrompemos a itinerância de exposições pelo interior do Estado e estamos fazendo uma série de economias, envolvendo, por exemplo, energia elétrica. Diante da crise, temos que manter o principal.
As exposições que seriam levadas à Europa neste ano foram canceladas em função da crise econômica?
Coutinho - Infelizmente, sim. Estávamos com tudo pronto, mas o Brasil passou por uma transformação financeira e econômica muito grande, que está impactando em teatros, orquestras, bibliotecas, museus e centros culturais, como Casa Daros, MAC Niterói, Biblioteca Nacional e Osesp, entre outros. Poderíamos ter aberto as mostras com menos dias de duração, mas resolvemos não comprometer o projeto.
E os projetos de catalogação de toda a obra de Iberê e de digitalização do acervo Fundação?
Coutinho - A digitalização está mantida e deverá estar pronta até o fim do ano, com toda a obra documental e artística do acervo da Fundação. Isso vai dar abertura a novas atividades curatoriais e de pesquisa. Já a catalogação está interrompida. A professora Mônica Zielinsky, que era responsável, se desligou. Uma catalogação é sempre um projeto que a gente sabe quando começa, mas nunca quando vai acabar. Os catálogos em qualquer lugar do mundo levaram duas ou três vezes mais tempo do que o previsto. O de Portinari, por exemplo, levou 28 anos. No caso de Iberê, ainda há um trabalho grande a ser feito, temos muito chão pela frente. Com certeza, o projeto de catalogação é o mais caro da Fundação e o mais demorado.
De que modo a crise impacta no conceito do projeto da Fundação?
Coutinho - Mesmo com reduções, paralisações e suspensões temporárias de atividades e programas, o projeto não perderá sua excelência. Mantemos, por exemplo, a gratuidade da programação para acesso do público, porque isto faz parte da visão e dos objetivos da Fundação.
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