Em tempos ainda mais turbulentos, haverá um governante que, incapaz de resolver o que os especialistas em palavrório chamam "questões de mobilidade urbana" - e descrente também na utopia do mundo sem motor -, promulgará uma lei que isentará de impostos aqueles que trafegarem com um amigo no carro. Parlamentares farsescamente haverão de bradar ser impossível comprovar a amizade através de um para-brisa. E o governante dirá um tão esperado "dane-se". (Havia um cinema em Porto Alegre que cobrava meia-entrada dos casais. Logo havia dezenas de pares de fachada, ao que se instituiu ser preciso trocar um beijo na frente do bilheteiro para comprovar o laço. A exigência de nada adiantou. A moral da história é que mesmo um beijo falso é mais legítimo que boa parte de nossos gestos cotidianos.) Conversas verdadeiras podem acontecer mesmo entre amigos de ocasião.
Coluna
Pedro Gonzaga: Gasolina
O colunista escreve quinzenalmente no 2º Caderno