* Zero Hora
Tome cuidado se você chegar ao novo álbum do grupo britânico Mumford & Sons esperando a natural sucessão de Sigh no More (2009) e Babel (2012). Em Wilder Mind, não se ouve uma nota das cordas que transformaram a turma de Marcus Mumford em um dos destaques da onda indie folk - o músico também participou da trilha de Inside Llewyn Davis (2013), filme dos irmãos Coen sobre um compositor da cena folk dos anos 1960. Mas não se desespere: mesmo passando longe do banjo para experimentar no terreno do rock, o quarteto faz uma virada interessante.
As influências são visíveis já nas fotos de divulgação do disco: assim como os demais integrantes da banda, Marcus abandona os suspensórios e coletes, e o figurino folk dá lugar a um visual mais urbano. A sonoridade roqueira é resultado do trabalho da nova dupla de produtores e da ponte aérea Londres - Nova York. Na capital inglesa, a banda trabalhou com James Ford, que divide a bateria com Marcus no álbum e que já produziu discos de Arctic Monkeys e Florence and the Machine.
Mumford & Sons e Fun. triunfam no Grammy 2013
Formato álbum está com os dias contados
Bob Dylan lança The Basement Tapes Complete com as históricas músicas gravadas em um porão em 1967
Já em Nova York, tiveram a produção de um ídolo do quarteto: Aaron Dessner, que, além de faz-tudo da banda The National, tem no currículo a produção do álbum de estreia do Luluc, duo australiano de folk que deslumbrou a crítica especializada no ano passado com Passerby. Misture a isso uma dose de dor de cotovelo (o baixista Ted Dwane e o banjoísta/guitarrista Winston Marshall, que estreiam como letristas, terminaram namoros durante a gravação) e você tem Wilder Mind e seu rock urbano sobre corações partidos.
As críticas ao disco têm sido discrepantes como o raiar da fase rock do Mumford & Sons. Pecando pelo excesso de sons que resulta em um filhote de Coldplay com Snow Patrol, o single Believe representa mal o álbum.
Mas, depois de um começo confuso, que mistura baterias no estilo The National com guitarras à la The Strokes no início de carreira, o disco cresce ao encontrar força em canções como a apaixonada Monster e a reflexiva Only Love.
Grande parte disso se deve a uma sucessão de melodias vocais que oferecem um paralelo ao que já era conhecido de Marcus Mumford - que, aí, deixa de dar os ares de vocalista de pop meloso para assumir o tom aparentemente almejado pela banda: ainda Mumford & Sons, só que sem banjo.
WILDER MIND
De Mumford & Sons
Pop/rock, Glassnote, 12 faixas, R$ 28.
Cotação: 3 de 5
Se você sentir falta do folk, dê o play aqui:
IRON & WINE
O americano da Carolina do Sul transita com graça entre o pop (com Flightless Bird American Mouth embalando o casamento do par Bella e Edward em A Saga Crepúsculo: Amanhecer -Parte 1), o folk de raiz e o groove sulista.
LAURA MARLING
A cantora, ex-namorada de Marcus Mumford, passou de jovem talento a primeira-dama do indie folk na Grã-Bretanha. I Speak Because I Can (2010) é álbum obrigatório para quem gosta de canções doces e letras intrigantes.
Um dos principais nomes do folk britânico, Laura Marling lança Short Movie
Leia a resenha de Once I Was An Eagle, quarto disco de Laura Marling
GREGORY ALAN ISAKOV
O sul-africano radicado nos Estados Unidos traz em seu som as experiências de um andarilho: até há pouco, nunca havia passado mais de dois anos na mesma cidade. Seu último álbum, o delicado The Weatherman (2013), bebe na fonte de nomes mais conhecidos como José González e Bon Iver, sem dever nada a eles.
JUSTIN TOWNES EARLE
Discípulo do mestre do bluegrass Townes Van Zandt, Earle emplacou Nothings Gonna Change the Way You Feel about Me Now (2012) na lista dos melhores álbuns do ano da Rolling Stone. Depois disso, conquistou seu lugar entre os cantautores da cena da meca folk Nashville.
LULUC
O som quieto e soturno do duo australiano o levou direto para as listas dos melhores do ano, a ponto de Bob Bollen, chefão de música da NPR, a rádio pública nacional americana, escolher Passerby, debut do Luluc, como seu álbum favorito de 2014.