O bis é a hora em que, terminada a tarefa principal, os músicos atendem os chamados do público e tocam, cantam, mostram um pouco mais do que vieram fazer. É um agradecimento, quase um alívio pelo aplauso recebido, os urros de entusiasmo que poderiam ter sido vaias, pois nunca se sabe.
Nos concertos eruditos é a hora de jogar para a torcida. Há até casos de músicos que agradecem os aplausos já com uma pilha de partituras embaixo do braço, armados para atender os pedidos da plateia e não deixar barata a hora do bônus.
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Um bis tem segredos. Não pode ser muito curto para não parecer favor concedido a contragosto. Também não pode ser longo, esgarçando a paciência da plateia que, nessas horas, nunca vai muito longe.
Outra coisa: mesmo depois de um recital extenuante, de um concerto cansativo, o músico não pode relaxar a musculatura e tocar alguma coisa simplesinha, trivial, um Lac de Come, um Pour Elise. Isso até celulares fazem. Para o músico, é essencial prolongar a magia, custe o que custar.
Há uns dois anos, a violinista Hilary Hahn resolveu o problema à sua maneira. Primeiro, abandonou os bis conhecidos e previsíveis - e aguardados! Depois, pediu bis novos, inéditos, surpreendentes, a vários compositores. Resultado: 27 novas peças, todas impressionantes na aplicação dos compositores no cumprimento dos requisitos indispensáveis. Nem curto, nem longo; nem simples, nem transcendental; nem sonolento, muito menos hiperativo.
Do tecnicamente exigente, quase circense de tão atlético, ao sonhador e poético, os 27 bis de Hilary Hahn estão reunidos em álbum duplo. Algum dia, essas peças curtinhas poderão até cair no gosto dos músicos e, no final da história, poderão até se transformar em bis esperáveis como todos os outros, peças bem-vindas que nos mandam para casa com um sorriso no bolso.
A hora do bis tem seus mistérios e o maior deles é isso de prolongar o convívio entre músicos e ouvintes. Sim, a música tem isso. Mas qual seria o bis da escultura, do filme, da poesia?
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