Para compreender a revolução produzida por James Joyce (1882-1941) em Ulisses (1922) é preciso atravessar uma jornada de mais de 800 páginas. Mas quem ainda tão teve a oportunidade de experimentar o impacto deste, que é um dos mais célebres romances da literatura moderna, pode ter uma ideia do culto alimentado em torno da obra hoje, quando o mundo todo se junta em uma confraria joyceana. Para isso, basta participar das discussões do Bloomsday, evento que chega a sua 22ª edição em Santa Maria.
A programação do Bloomsday 2015 em Santa Maria
Na trama de Ulisses, Joyce se utiliza de diferentes técnicas narrativas para descrever o dia a dia comum do anti-herói Leopold Bloom. Assim, por meio de uma narrativa composta em sua grande parte de monólogos interiores, o escritor irlandês convida o leitor a acompanhar a vida de seu personagem, um descendente de judeus radicados em Dublin, corretor de anúncios para jornais e morador da Rua Eccles, nº 7.
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Perturbado pela traição da mulher, Molly, Bloom inicia sua ordinária odisseia pelas ruas da capital irlandesa. Numa jornada que se estende por quase 18 horas do dia 16 de junho de 1904, o personagem faz o desjejum com rim frito e chá com leite. Depois, envia cartas, participa de um enterro, toma banho em um banheiro público, vai ao hospital visitar uma amiga grávida, passeia pela praia e faz consultas na Biblioteca Nacional. Por fim, após ir a um bordel da cidade, volta para casa acompanhado do jovem e embriagado amigo Stephen Dedalus, quando reencontra a companheira.
Mas por que essa sucessão de eventos prosaicos segue alimentando culto e reunindo entusiastas e simpatizantes ávidos por relembrar os acontecimentos daquele dia comum? A devoção a Ulisses começou a ganhar peso mundial a partir dos anos 50. Em Santa Maria, chegou em 1994 na bagagem de um paulista que veio dar aulas na UFSM. Aguinaldo Medici Severino, idealizador do evento - o segundo mais antigo do Brasil - credita a veneração em torno da obra ao fato de Bloom ser o oposto do mítico e perfeito Ulysses, personagem criado por Homero no qual o autor se baseia.
- Joyce traz o resumo de uma vida. É uma vida simples, de uma pessoa comum, na qual resume o que qualquer outro ser humano poderia viver - avalia Aguinaldo, que já leu Ulisses de cabo a rabo três vezes.
Joyce customizado
A programação deste ano terá dois momentos. A partir das 14h, haverá leitura e bate-papo sobre a obra no Café da Cesma. Mas, conforme Aguinaldo, o destaque da programação deste ano é a exposição Livros de Artista Bloomsday 2015. Também na Cesma, às 18h, haverá a vernissage da mostra.
Sob a orientação da professora Helga Corrêa, 12 artistas plásticos do Grupo de Pesquisa Arte Impressa usaram trechos do livro como inspiração para suas obras. Depois das 18h, as atividades continuam no Ponto de Cinema, onde haverá um sarau, com leituras de Ulisses regadas a música irlandesa.