Em um dia desses, um pequeno produtor de vinhos me contou uma história curiosa. Certa vez, serviu a um cliente um vinho de R$ 25, que tinha pouca saída. Receoso de que o preço acessível pudesse indicar um produto de qualidade inferior, o sujeito desaprovou o vinho. Então, o produtor buscou uma garrafa sem rótulo e a serviu, pedindo que o cliente sugerisse um preço. "Esse vinho vale, no mínimo, R$ 40", respondeu. Era o mesmo produto que havia desaprovado antes. O resultado foi que o rótulo teve o preço aumentado de R$ 25 para R$ 40 e - surpresa - as vendas deslancharam. Foi então que o produtor concluiu que, entre um vinho nacional de R$ 25 e um argentino de mesmo preço, o consumidor brasileiro tende a suspeitar que o nacional é inferior.
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Sei que não devemos generalizar essa lição, pois muitos fatores influenciam o preço dos vinhos brasileiros, que sofrem com altos impostos. Me interessa tomar o caso isolado (ou não tão isolado?) desse episódio para analisar o outro lado: uma certa recusa dos brasileiros em pagar um preço acessível por produtos de valor agregado, como se diz no jargão empresarial. Pagamos preços inéditos por um celular top de linha mesmo tendo boas opções a custo menor, sacrificamos nossa poupança para comprar o carro do ano e adoramos marchar com o dobro do valor de um ingresso de show, ou até mais, para ter acesso à pista VIP. Quando nos surpreendemos com alguns preços, às vezes a explicação é bastante simples: tem gente que paga.
Coluna
Fábio Prikladnicki: tem gente que paga
O colunista escreve quinzenalmente no 2º Caderno
Fábio Prikladnicki
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