Escolher um maestro para uma orquestra é como transferência de jogador de futebol, processo eleitoral, loteria, acaso do destino. Há empresários envolvidos, votações entre os músicos, nomes jogados na roda da fortuna, coincidências inexplicáveis. Agora mesmo, três orquestras celebradas da música de concerto ficaram a ver navios, sem seus maestros titulares - a Sinfônica de Londres, a Filarmônica de Nova York e a Filarmônica de Berlim. Rara, essa conjunção estranha: três empregos dando sopa num mundo em que a concorrência é, sem ofender os cães, canina.
Há um porém: "ficar sem maestro titular" não é coisa instantânea, é coisa para dois, três anos no futuro. Em Londres, o russo Valery Gergiev foi o único a apresentar demissão imediata. Na onda de um posicionamento político discutível - é defensor da ocupação da Ucrânia pela Rússia - e de uma regência cada vez mais errática, Gergiev resolveu pedir as contas e sair de cena. Os outros maestros ficam num gerundismo prolongado: "Eu vou estar saindo em 2018", disse Simon Rattle em Berlim; "Eu vou estar saindo em 2017", disse Alan Gilbert em Nova York.
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Nunca entendi bem a mania brasileira de ligar a direção de hospitais, centros culturais e atividades artísticas ao ir e vir das ondas políticas, o que faz com que os ciclos se comportem em espaços curtinhos de quatro anos ao fim dos quais tudo recomeça. Ora, quatro anos é quase o tempo de aviso prévio de um maestro, pelo que se vê. O funeral é longo, é verdade, mas talvez seja melhor do que não ter tempo para ver um projeto florescer por inteiro, já que planos hospitalares ou artísticos levam tempo e exigem paciência.
Neste mês, Rattle saiu de Berlim e foi para Londres. A Sinfônica de Londres resolveu o seu problema... a partir de 2017. As outras orquestras vão remando. Berlim tem uma enquete - ou seria mesmo eleição? - com toda a orquestra dentro de poucos dias, para definir o rumo da investigação. É preferível um regente jovem, ainda em formação? Ou um veterano que já chegue mandando regras, como Abbado e Karajan antes dele (ou dela...)? A loteria está em curso.