Até alguns anos atrás, eram poucos os filmes independentes indicados ao Oscar. Isso mudou: os blockbusters perderam espaço e, hoje, são os longas de baixo orçamento que dominam o maior prêmio da indústria. Em outras palavras, cresceu a distância entre os bons de bilheteria e aqueles que são tidos como os melhores de Hollywood.
Lá se vão cinco anos desde que Avatar e Guerra ao Terror polarizaram a disputa do Oscar de melhor filme, na imagem que melhor define a divisão escancarada entre os blockbusters e os vencedores dos prêmios oferecidos pela indústria. Em 2010, foi Guerra ao Terror, produção independente que arrecadou US$ 49 milhões, que venceu o Oscar de melhor filme, batendo o arrasa-quarteirão de James Cameron, que colheu US$ 2,7 bilhões em sua carreira no circuito.
Avatar foi um raro exemplar de blockbuster que o Oscar levou em conta - foi indicado em nove categorias, venceu em três. Entre os oito concorrentes a melhor filme neste ano de 2015, até aqui, só três passaram dos US$ 100 milhões arrecadados: Sniper Americano, O Jogo da Imitação e Grande Hotel Budapeste. Para estar no top 10 da temporada, conforme a média dos últimos anos, só passando dos US$ 500 milhões.
- A Academia de Hollywood só escolhe filmes de grande bilheteria: este é um mito que já caiu há muito tempo - comenta a ZH Ana Maria Bahiana, crítica e jornalista brasileira radicada em Los Angeles.
Para Ana Maria, as escolhas estão ligadas ao estado de espírito dos acadêmicos - que por sua vez traduz a situação da indústria. As "grandes produções de estúdio" são geralmente premiadas quando predomina a autocelebração, enquanto os títulos "menores" refletem momentos de autocrítica.
Em infográfico, os números do abismo:
Fato é que a distância entre os preferidos do público e dos analistas (os acadêmicos e também os críticos) aumentou. Para comprovar, basta passar os olhos pelos vencedores do Critics Choice, prêmio entregue pelos críticos dos EUA, e do Peoples Choice, eleitos pelos fãs: são listas totalmente diferentes. O "esquecimento" dos longas mais populares nas principais categorias do Oscar reflete o abismo que separa esses dois polos.
Nesse caminho de via dupla trilhado por Hollywood, projetos bem-sucedidos nos dois âmbitos têm sido raros. E o Oscar tem ficado, cada vez mais, com filmes que nasceram de maneira independente (ou como projetos menores dentro dos grandes estúdios). São os casos de O Artista, Argo e 12 Anos de Escravidão, os vencedores do Oscar nos últimos três anos.
Em 2015, os favoritos Boyhood e Birdman mal passam, juntos, de US$ 100 milhões arrecadados. São, "em essência", escreveu Ana Maria Bahiana no seu blog no portal Uol, "o oposto de tudo o que está acontecendo na indústria". Ou seja, são trabalhos pessoais, realizados com paixão e sem a intenção de criar universos que permitam continuações, vendas de produtos ou outro tipo de marketing externo.
É quase certo, em outras palavras, que o vencedor do Oscar deste ano será um filme de penetração de mercado ínfima para os padrões dos grandes estúdios.
Leia as críticas dos principais indicados ao Oscar:
Selma
A Teoria de Tudo
O Jogo da Imitação
Birdman
Boyhood
O Grande Hotel Budapeste
Foxcatcher
Whiplash