Os passos que os Estados Unidos deram entre o fim do regime escravocrata, em 1863, e a eleição do seu primeiro presidente negro, em 2008, tiveram pelo caminho capítulos simbólicos de uma luta que, naquela sociedade, é travada dia a dia com a devida gravidade. Um desses momentos relevantes é tema do documentário Libertem Angela Davis (Free Angela and All Political Prisoners, EUA/França, 2012), em cartaz a partir desta quinta-feira no CineBancários, em Porto Alegre.
Com direção de Shola Lynch, o filme destaca a figura da ativista negra Angela Davis, protagonista de um caso policial e jurídico que ganhou dimensão mundial em 1970 por seu simbolismo político e social. Nascida em 1944 no Alabama, Estado sulista dos mais racistas naqueles tempos, Angela formou-se em Filosofia na Alemanha. De volta aos EUA, encontrou o país em convulsão. Os assassinatos de Malcolm X (em 1965) e Martin Luther King (em 1968) colocaram a luta contra a segregação racial em evidência tanto pelo viés radical de um quanto pela tentativa de diálogo empreendida pelo outro.
Angela engajou-se no Partido Comunista dos EUA e no grupo Panteras Negras, que defendia o direito dos negros à luta armada. Acusada de envolvimento no sequestro frustrado que resultou na morte de um juiz, tornou-se se a mulher mais procurada dos EUA. Ela própria, hoje com 70 anos, ajuda reconstituir, em meio a depoimentos atuais e imagens de arquivo, a história de sua fuga, captura, temporada na prisão e julgamento. Passos que ajudaram a pavimentar a estrada para Barack Obama chegar à Casa Branca.
Como mostram os recentes eventos policiais ocorridos nos EUA, a luta de Angela continua, mas em um nível de conquistas e debates ainda muito distantes, por exemplo, do que se observa no Brasil. Aliás, Angela esteve esse ano participando de um evento em Brasília e disse estranhar que a população majoritariamente negra do país não esteja espelhada, na mesma proporção, na representação política e na programação de TV. Por aqui, este ainda é um caminho longo e pedregoso a ser desbravado.