Um dos 11 registros da performance "Xerox Action", de Hudinilson Jr. Foto: FVCB / Divulgação
No começo dos anos 1980, o paulista Hudinilson Jr. tirava a roupa e se deitava nu em cima de uma fotocopiadora. Ele xerocava partes íntimas do próprio corpo, em algumas situações para intervir nas ruas expondo as imagens em polêmicos outdoors, e se deixava fotografar nas diversas posições em que parecia simular um ato sexual.
- Foi um voyeurismo de mim mesmo. Eu literalmente transei com a máquina - diria o artista, morto no ano passado, aos 56 anos.
Um dos mais emblemáticos trabalhos da história da performance no Brasil, a série completa e original da Xerox Action é um dos destaques de Fotografia Transversa, primeira exposição que a Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB) apresenta neste ano na Sala dos Pomares, em Viamão. A abertura será neste sábado, às 11h. Composto por 11 imagens e dois textos, Xerox Action integra, ao lado de outras obras, o segmento fotográfico que compõe o acervo da instituição.
- O trabalho do Hudinilson é uma amostra do conceito ampliado de fotografia. É uma "xerox performance", realizada com a fotocopiadora como lente de captação de imagens espelhadas narcisicamente, em um dos melhores exemplos da aliança imagem-máquina-corpo-identidade. É uma ocasião rara contemplar o conjunto desse trabalho - comenta o curador da mostra, o poeta e crítico de arte espanhol Adolfo Montejo Navas.
Reunindo 48 obras dos anos 1970 até hoje, Fotografia Transversa é a primeira coletiva exclusivamente fotográfica que a FVCB realiza em seus 10 anos. Serão apresentados trabalhos de mais de 30 nomes brasileiros e estrangeiros, como Alex Flemming, Ana Vitória Mussi, Carmen Calvo, Cao Guimarães, Clóvis Dariano, Elida Tessler, Enrica Bernardelli, Jorge Menna Barreto, Mário Röhnelt, Michael Chapman, Paulo Bruscky, Sarah Bliss, Sascha Weidner e Vik Muniz. Como sugere o título, a exposição destaca a fotografia como recurso de trabalhos marcados pela transversalidade de linguagens.
- Durante um tempo, a fotografia artística não se preocupava tanto com as questões da imagem, mas do fotografar. Era uma leitura, digamos, mais realista. A partir dos anos 1970, passa a ser usada por artistas que não são fotógrafos. Ao deixarem de lado certo purismo, eles a tornam mais maleável e híbrida. É uma fotografia que transversaliza linguagens - diz Navas.
O surgimento de artistas fotógrafos ao lado de fotógrafos artistas, nas palavras do curador, aparece também na exposição em trabalhos em que as imagens "saltam da parede" para integrar objetos tridimensionais e instalações.
- A fotografia, que procurava ser um retrato fiel da realidade, passa a ser uma fotografia construída, que inclui muita ficção - diz Navas.
Em Fotografia Transversa, ainda é possível ver um trabalho de Anna Bella Geiger que está entre as 28 obras recentemente adquiridas pela FVCB por meio de recursos obtidos com o Prêmio Marcantonio Vilaça 2013. Integra a exposição uma palestra com Adolfo Montejo Navas e o professor da UFRGS Alexandre Santos, que será realizada nesta sexta-feira, a partir das 17h, no Santander Cultural. E, pelo programa educativo da instituição, a mostra é acompanhada por uma série de ações voltadas a professores e estudantes de Viamão.
Fotografia Transversa
> Abertura neste sábado, das 11h às 17h. Visitação até 20 de julho, de segunda a sexta, das 14h às 17h30, com agendamento prévio. Entrada gratuita.
> Para a inauguração, haverá transporte gratuito com partida às 11h e às 14h, em frente ao Theatro São Pedro (Praça da Matriz), em Porto Alegre. Inscrições pelo e-mail info@fvcb.com.
> Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB), em Viamão (Avenida Senador Salgado Filho, 8.450, RS-040), entre as paradas de ônibus 53 e 54. Fones (51) 3228-1445 e (51) 8229-3031 e e-mail educativo@fvcb.com.
> Palestra: Adolfo Montejo Navas e Alexandre Santos falam sobre a exposição nesta sexta-feira, às 17h, no Santander Cultural (Praça da Alfândega), em Porto Alegre.
> A exposição: apresenta 48 obras de mais de 30 artistas que usam a fotografia aliada a outras linguagens.