Guarde estes nomes: José Luiz Villamarim (diretor), George Moura (roteirista) e Walter Carvalho (diretor de fotografia).
O trio de profissionais responsável pela qualidade cinematográfica da minissérie Amores Roubados, o mesmo que produziu O Canto da Sereia no ano passado, pode estar levando a televisão brasileira a surfar na onda de qualidade que tem feito seriados como Breaking Bad ou Homeland chamarem mais atenção do que boa parte do que se produz no cinema americano contemporâneo.
A minissérie em 10 capítulos baseada no romance naturalista A Emparedada da Rua Nova, do pernambucano Carneiro Vilela (1846 - 1913), estreou segunda-feira, na RBS TV, deixando claro, desde os primeiros minutos, que suas principais referências estão no cinema e não na TV. Paisagens que evocam os grandes westerns, planos cuidadosamente arranjados e a deslumbrante fotografia de Walter Carvalho afastam de imediato o espectador da estética chapada da novela das oito. As semelhanças com a insossa Amor à Vida, a atração que vem logo antes na grade, resumem-se aos nomes globais do elenco, mas mesmo aí há uma diferença brutal entre o desempenho que um bom diretor é capaz de extrair de atores limitados como Cauã Raymond e o que se costuma ver em novelas (inclusive com o mesmo ator).
Se o material humano à disposição é uma Dira Paes ou um Irandhir Santos, ambos experientes atores de cinema, essa qualidade é potencializada ainda mais, mas o grande mérito da direção de atores da minissérie talvez seja o de ter conseguido passar para o público uma sensação de conjunto afinado e homogêneo, parecida com a que se tem com alguns seriados que ficam muito tempo no ar.
Nesses primeiros capítulos em que as mulheres (Isis Valverde, Patricia Pillar, Dira Paes) dominaram a cena, vale destacar o excelente desempenho de Cássia Kiss Magro como a empregada doméstica que lembra a ardilosa Juliana de O Primo Basílio - outra referência literária da série, que está apresentando para o Brasil, além de Carneiro Villela, o poeta pernambucano Joaquim Cardoso (1897 - 1978), autor do poema que Leandro (Cauã Reymond) usa para seduzir Isabel (Patricia Pillar) e que a esta altura boa parte do público já sabe de cor (confira abaixo).
Outro mérito da série é o de retratar o sertão evitando clichês e sotaques forçados, coisa que o melhor cinema brasileiro já vem fazendo há algum tempo e que a televisão parecia ter dificuldade de imitar. Para os espectadores gaúchos, porém, não deixa de ser irônico que a primeira minissérie a colocar em cena a moderna produção de vinhos do país tenha como cenário o Vale do São Francisco e não a Serra Gaúcha. O certo é que nunca se bebeu tanto vinho e espumante em cena na TV brasileira - mas se a moda pegar, nenhum produtor gaúcho vai achar ruim.
Poema
Eu não quero o teu corpo
Eu não quero a tua alma,
Eu deixarei intato o teu ser, a tua pessoa inviolável
Eu quero apenas uma parte neste prazer
A parte que não te pertence.
- Joaquim Cardoso (1897 - 1978)