Homens como o aventureiro norueguês Thor Heyerdahl colocam seu nome na história movidos por uma combinação de atributos que fazem deles, a rigor, uma representação bastante crível do super-herói - até o nome de um Heyerdahl tem. Em 1947, ele empreendeu inteligência, força física, coragem e obstinada paixão por fazer justiça à frente da façanha que inspirou o filme A Aventura de Kon-Tiki, destaque na programação dos cinemas da Capital.
Heyerdahl (1914 - 2002), reencarnado na figura altiva do ator Pal Sverre Hagen, foi um geógrafo, arqueólogo e naturalista forjado no trabalho de campo, arquétipo do explorador curioso por desbravar os locais mais inóspitos do planeta. Foi durante uma viagem com sua mulher à Polinésia (conjunto de ilhas ao sul do Oceano Pacífico), nos anos 1930, que Heyerdahl começou a juntar elementos que alimentaram sua revolucionária teoria: os primeiros habitantes do arquipélago não teriam vindo do Oeste, do sul da Ásia, como se acreditava, mas sim do Leste, da região onde hoje se localiza o Peru.
Sem respaldo do ambiente acadêmico, Heyerdahl, convencido de que eram corretos os indícios coletados, entre os quais o estudo de ventos e correntes marítimas, decidiu colocar a teoria em prática numa aventura, para muitos, suicida. A bordo de uma jangada, construída tal qual a que teria sido utilizada por esses colonizadores primitivos, ele e cinco companheiros se lançaram ao mar do litoral peruano. Heyerdahl estava convencido de que o porto final, meses depois, seria alguma das ilhas da Polinésia.
Com direção de Joachim Ronning e Espen Sandberg, A Aventura de Kon-Tiki representou a Noruega na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro em 2013. Se, como registro biográfico, a dupla investe num modelo de narrativa mais convencional, a reconstituição da improvável viagem da jangada singrando o oceano em meio à tempestade, ao cerco de tubarões e à natural tensão entre a tripulação, é primorosa. Tira o fôlego tanto pela beleza do cenário quanto pelo suspense de um constante flerte com a tragédia.
Se por ventura algum espectador achar que a dupla de cineastas carregou as tintas nessa reconstituição, está disponível no YouTube (confira abaixo) o documentário Kon-Tiki (1950), impressionante registro em preto e branco da odisseia real - e que, com direção creditada a Heyerdahl, ganhou o Oscar de melhor documentário. A diferença, além das cores, é que os atores que pegam tubarão à unha não correram o mesmo risco que Heyerdahl e seus bravos marujos.
A Aventura de Kon-Tiki
De Joachim Ronning e Espen Sandberg. Com Pal Sverre Hagen e Tobias Santelmann.
Drama, Noruega/Grã-Bretanha/Dinamarca/Alemanha/Suécia, 2012.
Duração: 118 minutos. Classificação: 12 anos.
Cotação: 4, de 5 estrelas