Quando as luzes se apagaram, pensei: que roubada. Apesar das zilhões de críticas favoráveis a Titanic, jamais tive vontade de assistir a esse já clássico do cinema hollywoodiano.
Não sei explicar exatamente o motivo - talvez o fato de ter que ficar mais de três horas sentada numa cadeira ouvindo Celine Dion seja o mais forte deles -, mas nunca, nem na época de sua estreia nos cinemas, quando eu tinha meus 20 anos, nem em reprise de Sessão da Tarde, em férias, me dispus a conferir na tela o mais famoso naufrágio de navio da história.
Porém, quando eu recebi um provocante e-mail do colega Ticiano Osório perguntando quem jamais tinha visto o filme, respondi com um singelo "nunca, eu juro", o que me deu um passaporte sem direito de dizer não à sessão fechada para jornalistas da última segunda-feira no Shopping Total. Afinal, eu era uma das 17 pessoas que não assistiram a Titanic em Porto Alegre (ok, o número pode ser um pouco maior, mas nem tanto...).
Amante de filmes de "tiro e sangue" à la Tarantino, lá estava eu sentadinha, aguardando a comprovação de que o ícone cinematográfico não passaria de um melô do marinheiro recheado de recursos e peripécias de edição. Confesso que fiquei impressionada com algumas cenas, extremamente bem editadas.
James Cameron conhece como poucos onde pisa. Mas esses aspectos técnicos foram os únicos que realmente prenderam minha atenção - e foi o que me tirou o sono. O trololó do DiCaprio pra cima da Kate Winslet soou pegajoso, deixando o filme com um gosto de Fanta Uva quente.
A parte mais legal, é claro, é quando o navio começa a afundar. O ápice é quando racha no meio e as centenas de corpos são arremessados ao mar, como formigas. Daí, a tragédia fica mais realista: imaginar que aquilo aconteceu dá um nó na garganta.
Cem anos depois, respeito o fato de relembrarem a trágica noite do Titanic com o lançamento em 3D e toda uma parafernália midiática. Mas o filme, em si, segue sendo um ambicioso (para não dizer megalomaníaco) projeto, feito sob medida para arrecadar bilheterias bombásticas. Sua falta de simplicidade, ainda mais em 3D, me incomoda.
A única vontade que tive, ao encerrar a sessão, foi entrar numa próxima sala para assistir um velho e bom faroeste - ou, vá lá, um Kill Bill. E, claro, sem óculos especiais.
*Editora do caderno Vida de Zero Hora