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Meca do sertanejo, Goiânia atrai artistas gaúchos

Desde a década de 2010, artistas do Rio Grande do Sul têm migrado para lá, onde encontram oportunidades, mas têm de aprender a lidar com a parte empresarial do trabalho

William Mansque

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Maycon Campos / Divulgação
Apresentação da dupla gaúcha Eder & Emerson, naturais de Esteio.

Se um artista trabalha com sertanejo no Brasil, então todos os caminhos levam a Goiânia (GO). Há anos que cantores e compositores do país inteiro migram para a cidade em busca de sucesso e projeção no gênero. Por lá, há também gaúchos tentando a sorte.

Seja para fixar residência, seja para ao menos gravar um disco, a cidade tem recebido artistas sertanejos do Rio Grande do Sul desde a década de 2010: Mali, Jennifer Scheffer, Deise Veiga, a dupla Eder & Emerson, Gabriel (da dupla João Bosco & Gabriel), Matheus Comassetto (da dupla Bison & Comassetto), entre outros. Nomes como Sandro & Cícero, Roger & Gustavo e Bibiana Bolacell também já produziram registros na cidade.

Entre a turma de gaúchos, a cantora Mali vive em Goiânia desde de 2022. Natural de Dom Pedrito e tendo crescido em São José do Norte, no Sul do Estado, ela participou de realities musicais como Astros, do SBT, em 2013, e The Voice Brasil, da TV Globo, em 2015. Aos 28 anos, ela já morou em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, mas reconhece a capital goiana como o melhor lugar para se ter  acesso a artistas e aos grandes compositores do sertanejo. 

Acredito que a cidade ficou muito atrelada ao sucesso. Artistas e compositores vêm para cá por saberem dessa história. Goiânia tem muitas oportunidades mesmo — atesta.

Para Mali, a cidade foi essencial em sua evolução não só artística, mas também empresarial:

— Até as experiências ruins foram primordiais para entender todo o 360º da carreira. Antes, achava que era só gravar uma música ou DVD e tudo aconteceria. Hoje, tenho uma noção mais apurada. Tinha que me ligar ao marketing e outras coisas como uma empresa mesmo.

Como funciona o sistema

A mesma evolução ocorreu com a cantora, instrumentista e compositora Jennifer Scheffer, 31 anos. Natural de Santo Ângelo, mas morando em Pelotas, ela partiu de ônibus para Goiânia em 2018 com três malas e um violão.

Jennifer já havia participado de programas de TV, tendo despontado pela primeira vez no quadro Os Imitadores, do Domingão do Faustão, em 2013 — ela era comparada com Paula Fernandes no período. Quando partiu para a capital de Goiás, foi atrás da fonte do negócio.

— Vim para cá muito crua. Todo mundo acha que é só escolher uma música e estourar. O artista chega muito iludido, pensando só na parte musical — constata. — Quando temos um projeto e um escritório, vemos as partes burocráticas, como funciona o sistema. Artisticamente falando, hoje não pensamos só nessa parte, mas no mercado também.

Já os irmãos Eder e Emerson — 42 e 31 anos, respectivamente —, de Esteio, partiram para Goiânia em 2017 com o intuito de expandir o trabalho, seguindo um conselho de Marrone, da dupla Bruno e Marrone. Por lá, sentem que evoluíram tanto no networking quanto no repertório - especialmente na relação com o sertanejo raiz. 

Goiânia respira o sertanejo, respira o agro. Tudo se conecta. As pessoas aqui dão muito valor para essa música porque é algo que vem de muitos anos enraizado na cultura do Estado — explica Emerson.

É igual à música nativista para os gaúchos — completa Eder.

Muito poder concentrado

A dupla Sandro e Cícero — 37 e 34 anos —, que começou em Santa Maria, foi morar em Goiânia em 2021, após assinar com um escritório local. A experiência é vista como positiva por eles, pois lá aprenderam mais sobre as engrenagens do mercado, conheceram pessoas importantes e o que custa ter uma carreira nacional.

Porém, uma das principais dificuldades foi a distância da família. Um vazio que surgia em dias em que a dupla não tinha atividade.

— Ficávamos lá no apartamento, às vezes, apenas existindo. Havia momentos em que a "deprê" pegava um pouco. Além das próprias dificuldades do mercado, o artista lida também com a frustração — recorda Cícero. — Então, tínhamos que trabalhar a cabeça, ter paciência, mas nem tanta paciência assim porque cobrávamos o escritório para agir. Quando era só eu e o Sandro, tomávamos as próprias decisões e corríamos atrás. Quando entrou mais gente, complicou um pouco mais. 

A dupla retornou ao RS em 2023, especialmente para retomar o poder de decisão sobre a carreira. No entanto, o balanço da experiência foi positivo, contando com parcerias com nomes como Lucas Lucco, Tierry e Jerry Smith.

— Acho que é importante para um artista que almeja algo maior estar lá, nos mesmos lugares que essas pessoas que ditam os streamings do país. É muito poder concentrado numa cidade. Todo mundo trabalhando, pensando em sucesso — pondera Cícero.

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