Escritas para concertos sinfônicos, partituras com a caligrafia de Tom Jobim estavam mantidas no baú do compositor até seu primogênito, o músico e arranjador Paulo Jobim, na companhia do violonista Mario Adnet, darem vida ao material. O projeto Jobim Sinfônico virou CD e DVD em 2003, sendo premiado com o Grammy Latino em 2004. Passados 20 anos da conquista, o espetáculo ganha nova roupagem e será interpretado pela primeira vez pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) nesta quinta-feira (28), às 20h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), com entrada gratuita. Os ingressos estão esgotados.
Na época, Paulo e Mario convidaram músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) para executar as obras, além do cantor Milton Nascimento. Já a Ospa terá como convidados o próprio Mario Adnet (direção musical, violão e voz), Daniel Jobim (piano), filho de Paulo e neto de Tom; e Zé Ibarra, vocalista da banda Bala Desejo. Fazem participações especiais um quarteto vocal com Elisa Machado, Carol Braga, Cintia de los Santos e Débora Dreyer, e os músicos Kiko Freitas (bateria) e Eduardo Saffi (contrabaixo).
O programa incluirá sucessos que fazem parte do cancioneiro brasileiro, como Garota de Ipanema e Águas de Março, e canções menos conhecidas do público geral, mas que mostram Tom Jobim no auge da experimentação entre a música popular e a erudita, como Correnteza, do disco Urubu (1976), e Passarim, do álbum homônimo (1987).
Adnet, agora já sem a companhia do parceiro Paulo Jobim, morto em 2022, lembra do trabalho cuidadoso que tiveram de fazer em cima dos arranjos de Tom de forma a adaptá-los para um concerto sinfônico.
— O Tom havia criado arranjos sinfônicos para discos mais emblemáticos, como Matita Perê (1973) e Urubu (1976), entre outros. Só que esses arranjos nunca tinham sido executados no palco. O Paulo e eu resolvemos juntar toda a parte orquestral em um projeto. E tivemos que fazer uma revisão, uma ginástica para que os arranjos soassem perfeitos para um concerto sinfônico — diz Adnet, conhecido por pesquisar a obra de outros grandes compositores da música brasileira, como Villa-Lobos e Baden Powell.
Ao ser lançado, duas décadas atrás, o espetáculo Jobim Sinfônico viajou pelo Brasil e até fora dele, fazendo apresentações na Holanda e nos Estados Unidos, onde Tom ficou amplamente conhecido como um dos grandes nomes da música. Em Porto Alegre, contudo, fará sua primeira aterrissagem nesta retomada do projeto que teve uma passagem no final de 2023 por Belo Horizonte, onde foi executado pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
Maestro da Ospa, Evandro Matté diz que a música do gênio da bossa nova morto em 1994 se encaixa de forma perfeita em um concerto de orquestra, dotada de um leque de timbres e sonoridades que nenhum outro tipo de conjunto pode oferecer. Para o espetáculo no Araújo Vianna, foram chamados cerca de 50 músicos integrantes da orquestra.
— O Tom escrevia harmonias de altíssimo nível. Não por acaso, sua música tornou-se mundial. Misturou música brasileira com jazz e vários outros gêneros. Como é uma música de harmonia complexa e melodia bonita, encaixa-se de forma perfeita em um concerto.
Com a Ospa eventualmente fugindo dos espetáculos tradicionais e investindo em apresentações mais populares, a intenção é, quem sabe, fazer com que as pessoas que vão a esses concertos passem a gostar de música erudita. Ou, ao menos, sintam vontade de conhecer um pouco mais.
— É importante que a orquestra tenha linguagens diferentes, que não fique restrita a uma linguagem específica. Sou do tipo que acredita que esses espetáculos populares e diversificados acabam atraindo pessoas para a própria música de concerto — diz Matté.