Bem que São Pedro tentou jogar água nesse chope, mandando chuva por vários dias sobre a Capital, mas os porto-alegrenses que estavam decididos a fazer festa contagiaram até o clima. O tempo feio da manhã abriu espaço até para um sol forte no meio da tarde. Foi desta forma que ocorreu o primeiro dia do Festival Turá, neste sábado (18), no Anfiteatro Pôr do Sol, reunindo milhares de pessoas no local antes abandonado.
No espaço, que fica no trecho 2 da Orla e que não recebia shows desde 2019, a concha acústica, degradada pelo tempo, foi deixada de lado e um palco temporário foi montado para os artistas. No chão, onde o público estava, o barro também se fazia presente, devido ao acúmulo de água por conta dos dias de precipitação — alguns corajosos, que decidiram colocar um sapato branco para os shows, vão ter trabalho na hora de limpar.
A festa começou por volta das 14h, com os gaúchos do Bloco Império da Lã, comandados por Carlinhos Carneiro, levando o colorido do Carnaval para o dia até então cinzento da cidade, mas com um público ainda muito reduzido. Tanto é que, para acessar o evento, no começo, foi tranquilo, sem filas ou problemas no trânsito. Era só entrar e curtir.
Logo na sequência, por volta das 15h20min, foi a vez da artista paulista Jup do Bairro levar para o público a sua mistura de rap, funk e R&B, com poderosas mensagens de militância e um som pesado. Neste momento, o sol já dava as caras, meio tímido, entre nuvens. Já era o suficiente para empolgar ainda mais os presentes.
Foi por volta das 17h que o público começou a chegar com mais intensidade no local para curtir Papas da Língua, que já estava no palco, com sua formação original, quatro anos depois, voltando à ativa no Turá. Os gaúchos emendaram clássicos de sua discografia, como Lua Cheia, Vem pra Cá, Viajar e Blusinha Branca. E, claro, os presentes cantaram junto — nas mais românticas, como Eu Sei, os casais trocavam beijos apaixonados.
— Até o sol pintou, pessoal — comemorou Serginho Moah, em um clima completamente diferente daquele do começo do evento.
Em uma atmosfera de boa energia, às 18h20min, subiu ao palco o pernambucano Alceu Valença, que apresentou o show Alceu Dispor, trazendo sucessos como Belle de Jour, Flor de Tangerina e Anunciação — nesta última, a plateia cantou a plenos pulmões. Foi, até então, o momento mais catártico do evento, pela sintonia com a plateia.
— Eu toquei na semana passada em Novo Hamburgo e estava chovendo, mas aí eu cheguei e saiu sol. Agora, eu estava chegando aqui e, no aeroporto, pensei: "Será que vai acontecer de novo?" E aí está o sol — disse Valença no palco, celebrando que o tempo ruim foi embora e sendo aplaudido efusivamente.
Ótimo contador de histórias e com uma banda harmônica, o artista colocou o público em transe. Cada pessoa na plateia dançava as músicas de Valença de uma maneira diferente, totalmente em liberdade. Quando ele voltou para o bis, regeu os espectadores a cantarem quase toda Tropicana — e seu público obedeceu, aplaudindo o showman.
Por volta das 20h, foi a vez dos refrescos para os "emos velhos", conforme disse o líder da banda gaúcha Fresno, Lucas Silveira. Eles anunciaram que este seria o último show da turnê e o último do ano e, por isso, teria de ser especial. Desta forma, chamaram uma participação especial para a música Manifesto: Emicida, que despejou suas rimas, mesmo com uma falha no microfone, antecipando um pouco de apresentação de mais tarde.
Este momento energizou o público, que seguiu empolgado com Quebre as Correntes. A expectativa da plateia também era pela presença de Pitty, que seria convidada para o show. A roqueira baiana chegou apenas com mais de 40 minutos de show, para cantar Casa Assombrada, da Fresno. Ela ainda apresentou três de seus sucessos — Na Sua Estante, Máscara e Me Adora —, que foram entoados pelos presentes com empolgação e aplausos.
Silveira, ao falar com o público, explicou que era sonho antigo da banda tocar no Anfiteatro Pôr do Sol — e eles tentaram há 10 anos, mas não conseguiram por conta de "tretas" que ocorreram:
— Estamos fazendo o show com 10 anos de atraso. E sobrevivemos fazendo todo santo dia a mesma coisa há 20 anos, em um país que tenta nos matar.
E vale lembrar que, entre as atrações, o primeiro dia do Turá contou com os sets dos DJs das festas Cadê Tereza?, Cabaret, Blow Up e Céu Bar + Arte.
O encerramento dos shows desse primeiro dia ocorreu com o rapper paulista Emicida, que foi amplamente aplaudido por um Anfiteatro Pôr do Sol entusiasmado com a estrela. O artista subiu ao palco acompanhado de uma flauta, de sua serenidade costumeira e de seus mais envolventes sucessos — a abertura foi com A Ordem Natural das Coisas e já envolveu o público.
No setlist, ainda, o emocionante AmarElo, Baiana, Pequenas Alegrias da Vida Adulta, Quem Tem Um Amigo Tem Tudo, Levanta e Anda e Hoje Cedo, que pegou o público de surpresa, por trazer de volta ao palco Pitty, que cantou com o rapper. O momento foi ovacionado pelos presentes, que sabiam todas as músicas apresentadas pelo músico na ponta da língua.
Com luzes que o colocavam o artista quase como uma figura divina, a magnética apresentação do rapper emocionou os presentes e não eram raras as pessoas que fechavam os olhos para entrar no universo do rapper. Foi o ápice de um dia que começou com aparência acinzentada, mas que começou a ser colorido com a aparição do sol e, depois, seguiu alegre por conta da música boa e diversa que era ouvida na beira do Guaíba.
Programação deste domingo
- 14h - Bloco da Laje
- 15h30min - Francisco, el Hombre
- 16h30min - Morrostock
- 17h05min - Marina Sena
- 18h05min - Carol Sanches & Raquel Pianta
- 18h40min - Duda Beat
- 19h40min - DJ Chernobyl
- 20h15min - Baco Exu do Blues
- 21h15min - Cadê Tereza? por Nanni Rios
- 21h50min - Caetano Veloso