Daniela Mercury parecia estar prestes a botar a fofoca em dia com uma velha amiga quando atendeu à ligação de GZH. Entusiasmada, propínqua e sem frescura, a cantora falou com a reportagem durante cerca de uma hora, em tom de intimidade que faria qualquer um dizer: "Mais baiana, impossível". É algo praticamente intrínseco ao jeitinho de quem nasce na terra de todos os santos. Mas também aos gaúchos, como ela defende:
— O povo do Sul sempre fala comigo de uma forma que até parece que somos da mesma família (risos). É o mesmo jeito dos baianos. Apesar de termos culturas diferentes, nós somos muito parecidos.
É por isso que a saudade bateu forte na cantora, que está há 17 anos sem se apresentar na capital gaúcha. O aguardado reencontro ocorre neste sábado (4), às 21h, quando Daniela Mercury sobe ao palco do Auditório Araújo Vianna (veja detalhes sobre ingressos ao final do texto). A apresentação integra a turnê do último disco da artista, Baiana, mas a promessa é de um espetáculo bem mais amplo do que o habitual.
— Será um show exclusivo do Rio Grande do Sul. O resto do Brasil vai ficar dizendo: "Como assim você não vai fazer a mesma coisa aqui?" (risos). Mas é que tem muito tempo que eu não vou aí, estou devendo vários discos para vocês — afirma Daniela. — Já adianto que será um show longo. Se preparem para dançar durante umas duas horas e meia ou mais (risos).
Daniela vai mesclar as principais faixas de Baiana com clássicos obrigatórios de sua carreira — Canto da Cidade, Nobre Vagabundo, Rapunzel, Batuque e mais. Também haverá espaço no setlist para canções "lado B" escolhidas pelos fãs. A cantora tem feito enquetes em suas redes sociais para consultar quais são as músicas que o público deseja ouvir, além de contar com a ajuda de um de seus principais fãs-clubes, o gaúcho Banzeiros da Rainha.
Homenagem a Elis Regina
A passagem por Porto Alegre também renderá uma homenagem à gaúcha Elis Regina, que Daniela Mercury tem como sua maior referência musical.
— Fui ao primeiro show de Elis com 13 anos de idade. Nunca esqueci de absolutamente nenhum movimento dela no palco — conta a artista. — O meu repertório sempre tem alguma coisa da Elis, são músicas que estão naturalizadas na minha alma, que eu ouvi a vida inteira, mas vou homenageá-la ainda mais fortemente em Porto Alegre — adianta.
Para além do repertório especial, o show também promete emocionar os fãs pelas referências. Daniela vai incorporar elementos marcantes de seus 40 anos de carreira ao espetáculo — as luvas azul e vermelha que usou na capa do disco O Canto da Cidade (1992), por exemplo — e repetir coreografias do histórico show que fez em 1992 na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro.
A apresentação reuniu cerca de 40 mil pessoas e foi mesmo apoteótica, tanto é que acabou sendo transformada em um especial da TV Globo. A transmissão do show em escala nacional fez com que o axé, expressão cultural nascida nos guetos de Salvador, rompesse as barreiras geográficas e caísse nas graças de todo o país.
Daniela sabe da importância que ela e o episódio tiveram para a história do gênero e reconhece que abriu portas para dezenas de outros artistas também conquistarem o Brasil no ritmo da axé music:
— Represento a música de um povo que precisa cantar para se incluir. Não era provável que me tornasse uma artista de projeção nacional com esse tipo de repertório. As gravadoras não compreendiam o que eu fazia e as rádios não estavam abertas para o meu som, era realmente improvável. Mas diante da força da minha música, uma música percussiva e de raiz afro-brasileira, eu consegui. Nós conseguimos.
Axé tocou o coração do sul do país, diz artista
A cantora se orgulha de ter levado o axé não somente para todos os cantos do Brasil, mas também para o mundo: foram mais de 700 shows internacionais ao longo das últimas quatro décadas.
— A música brasileira tem um potencial enorme. O mundo inteiro olha para o que estamos fazendo culturalmente — diz ela.
Daniela Mercury diz que o Rio Grande do Sul foi um dos primeiros Estados a acreditar em seu trabalho. A artista perde-se nas contas ao tentar se lembrar dos shows que realizou por aqui nos anos iniciais de sua carreira. Foram dezenas, segundo ela.
— Se o axé conseguiu chegar ao Brasil e ao mundo, foi porque ele tocou o coração do sul do país — afirma a artista, ansiosa por retribuir tudo isso com um show inesquecível.
Daniela Mercury em "Baiana"
- Neste sábado (4), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
- Ingressos inteiros a partir de R$ 200 (inteiro) ou R$ 110 (solidário, mediante a doação de 1 kg de alimento não perecível), à venda na plataforma Sympla (com taxa) e na bilheteria do local, que abre no dia do show, duas horas antes do início.
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e acompanhante (sobre o valor inteiro).