Madeleine Peyroux tem uma trajetória digna de uma grande cantora. Foi de artista que toca pelas ruas de Paris a nome que brilha nas paradas de sucesso. Foi comparada a Billie Holiday quando surgiu, mas hoje se sustenta como ícone feminino do jazz contemporâneo. Assim como sua veterana, teve problemas com álcool, ainda que menores. E consegue ser lembrada tanto por interpretações únicas quanto pelas próprias composições.
Prestes a completar 50 anos, ela mantém o romantismo da vida errante e o talento que resultou em quase três décadas de carreira e nove discos de estúdio, sendo que o mais badalado deles, Careless Love, coleção de covers lançada em 2004, será parcialmente apresentado nesta sexta-feira (29), às 21h, no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre (veja detalhes sobre ingressos ao final do texto). Ela terá a companhia de Andy Ezrin nos teclados, Barak Mori no baixo e Graham Hawthorne na bateria.
Estão garantidas músicas como You're Gonna Make me Lonesome When You Go, de Bob Dylan, Dance Me to the End of Love, de Leonard Cohen, e Between the Bars, de Elliot Smith, que ficaram tão adequadas ao timbre suave e rouco de sua voz que não seria ousadia dizer que são, se não melhores, tão boas quanto as originais. Ela também dará uma amostra do que será o seu próximo álbum de inéditas, ainda uma surpresa, mas marcado para sair no ano que vem.
— Terei terminado um novo álbum em outubro, que espero lançar em abril de 2024. Todas as 10 músicas foram escritas por mim e meu colaborador Jon Herington, e produzidas por Elliot Scheiner. São músicas especiais. Comecei a escrever durante a pandemia de 2020. E abordam questões graves do nosso tempo: o racismo norte-americano, o sexismo, a burguesia e o complexo industrial – adianta a cantora, em entrevista concedida por e-mail.
Ela já vinha assumindo um olhar crítico para o mundo nos últimos anos. Seu último disco, Anthem, de 2018, inspirado em Leonard Cohen, é considerado pela própria como fruto de um sombrio período de desestabilização tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, sua terra natal. Na época, Michel Temer ocupava o poder após Dilma Rousseff ser afastada, e Donald Trump liderava um país que acabava de ter seu primeiro presidente negro. Em All My Heroes, ela canta que, embora todos os seus heróis fossem perdedores, bêbados, santos caídos e suicidas, acenderam fogueiras nas sombras.
Compromisso com a música, o amor e o humanismo
O que espera da humanidade para os próximos anos?
— Suspeito que estamos repetindo a história mesmo quando ela parece nova, chocante ou ultrajante. Suspeito que somos todos engrenagens de uma roda, e a unidade é a nossa única oportunidade de sucesso como espécie. Tudo o que devo fazer é me comprometer com o que sei que é bom: música, amor, humanismo.
Resposta calcada no espírito de união de quem, aos 15 anos, passou a tocar nas ruas de Paris, onde foi morar com a mãe, e até passou o chapéu para os artistas com quem vivia em comunidade (também chegou a sofrer com alcoolismo e a ser internada para tratamento, o que se encerrou quando deu início à sua carreira profissional).
— Eu ainda sou a mesma, aquela jovem cantora pedindo atenção na esquina de uma rua barulhenta da cidade. Eu sou a mesma porque a música me segurou durante as mudanças.
Madeleine Peyroux em Porto Alegre
- Nesta sexta-feira (29), às 21h.
- Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80), na Capital.
- Ingressos: a partir de R$ 80. Há desconto de 40% para todos os setores, sem necessidade de comprovação ou doação (disponível na internet e na bilheteria física).
- Ponto de venda sem taxa: bilheteria do teatro. Ponto de venda com taxa: site uhuu.com.