Foi-se o tempo em que Madeleine Peyroux era comparada a Billie Holiday pela semelhança no timbre de voz. Hoje, a referência é ela mesma: em seu novo disco, está mais política do que nunca — sem ser panfletária. Anthem, lançado em 2018, é seu hino para uma América imaginada: pacífica, alegre, justa e receptiva. Parte do trabalho foi gravado antes das eleições norte-americanas de 2016, da qual Donald Trump saiu vencedor, e parte veio depois.
— Por isso, você ouvirá canções esperançosas e também canções... não esperançosas — diz a cantora, em entrevista a GaúchaZH por telefone, para logo arrematar: — Entende o que eu digo?
Anthem, o título, é inspirado na canção homônima de Leonard Cohen, uma das duas releituras presentes no álbum: a outra, em francês, é uma adaptação do poema Liberté, de Paul Éluard (1895-1952). Todas as demais canções são frutos de um esforço de criação coletiva da cantora com o produtor e parceiro de longa data Larry Klein e os músicos Brian MacLeod, David Baerwald e Patrick Warren. O processo reflete de forma decisiva o espírito de coexistência exalado pelas canções, que transitam livremente pelo folk, mais do que pelo jazz no sentido tradicional.
É o repertório desse álbum, considerado o maior projeto de seus 23 anos de carreira (contados a partir do disco de estreia, Dreamland, de 1996), que Madeleine vai compartilhar com o público de Porto Alegre nesta quinta-feira (12), às 21h, no Auditório Araújo Vianna — além, é claro, de canções marcantes de sua trajetória, incluindo uma versão para Dance Me to the End of Love, também de Leonard Cohen, sempre presente no repertório. No show, ela estará acompanhada por Steven Cardenas (guitarra), Andrew Stevens (teclado), Paul Frazier (baixo) e Graham P. (bateria).
Nascida nos Estados Unidos, Madeleine Peyroux teve despertada a paixão pela música depois de se mudar com a mãe para Paris, aos 13 anos. Seja pelo deslocamento geográfico, seja pela inquietação interior, ela se considera uma outsider, como os heróis rebeldes louvados em All My Heroes, uma das canções do novo disco:
— Não sou de lugar algum, mas tento estabelecer uma conexão com as pessoas por meio da música. Sempre que realizo um show, penso que estou no palco para fazer dele um lar durante duas horas com o público.
Latinidade
Citando consumismo, desregulação, privatização e encarceramento em massa, The Brand New Deal é a letra mais afiada do novo disco ("É cada homem por si, então agarre a fortuna / Sinta o pobre sob seu salto / No novo acordo"). Lullaby é cantada parcialmente em espanhol, enquanto Honey Party traz um sabor latino no refrão. São hinos ao país da diversidade.
— Em Nova York se cresce cercado de muitas culturas latinas. Os Estados Unidos hoje são um país falante de espanhol, mesmo que nosso presidente não saiba disso — conclui Madeleine.
Madeleine Peyroux em "Anthem"
Nesta quinta-feira (12), às 21h.
Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
Ingressos de R$ 280 a R$ 400, à venda no site uhuu.com (com taxa) e no local, no dia da apresentação, a partir das 16h.
Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante, limitado a cem ingressos.