O icônico compositor alemão Johann Sebastian Bach viveu entre 1685 e 1750. Sua obra, porém, segue atravessando gerações, sendo valorizada e referenciada por todo o mundo. Isso se reflete nas Bach Societies, instituições internacionais que, além de apresentar a música erudita composta pelo artista, tem como intuito pesquisar o trabalho desenvolvido pelo músico, centenas de anos atrás. E uma destas sociedades mais recentes é justamente a Bach Society Brasil, criada em 2020.
Tendo o cravista gaúcho Fernando Cordella como diretor artístico, a organização cultural acabou tendo as suas atividades concentradas em Porto Alegre. Dentro desta organização que gira em torno do trabalho do compositor alemão, existe o Ensemble Bach Brasil, o conjunto fixo da entidade, que conta com seis músicos: Giovani dos Santos, Leonardo Bock e Márcio Cecconello, nos violinos barrocos; Diego Shuck Biasibetti, no violoncelo e na viola da gamba; Alexandre Ritter, no contrabaixo; e o próprio Cordella, no cravo e na regência.
Os seis artistas, então, se moldam para cada apresentação que a Bach Brasil precisa fazer — agregando convidados ou até mesmo ficando na plateia, para ver o trabalho de um número reduzido de músicos no palco, o que é necessário para entregar alguma obra específica exatamente como planejado por Bach. Este, por sinal, é um dos principais objetivos da organização: chegar cada vez mais próximo do que foi pensado pelo compositor que viveu entre os séculos 17 e 18.
Desta forma, todos utilizam instrumentos originais da época ou, então, réplicas fiéis feitas principalmente na Europa dos equipamentos de séculos atrás. E este movimento começou na década de 1970, quando se percebeu que a sonoridade seria diferente, caso os instrumentos barrocos fossem utilizados no lugar dos apetrechos considerados modernos.
— Se tinha uma ideia de que o instrumento musical era tipo um computador, que quanto mais novo é melhor, mas se percebeu que um instrumento antigo, um violino, por exemplo, que tem as cordas de tripa de carneiro e não de aço, como é no moderno, tem resposta musical muito mais interessante. A música fica muito mais autêntica — explica Cordella.
Ir a um concerto ou recital da Bach Society Brasil, então, é quase uma viagem ao passado, com os artistas replicando o mais próximo possível o que foi idealizado pelo compositor alemão. Inclusive, a organização pesquisa em cartas e documentos deixados pelo músico como ele desejava que as suas composições fossem tocadas. Este trabalho de entender o que pensava Bach, alinhado com os instrumentos fiéis com a época em que as obras foram compostas, mostram este cuidado e perfeccionismo dos envolvidos, tentando se aproximar cada vez mais do legado do ídolo.
— Por que as pessoas ainda tocam Beatles? É porque a música é boa. O que mantém, em primeiro lugar, é a qualidade. Bach foi usado como referência de todos, inclusive dos próprios Beatles. Paul McCartney diz que algumas músicas ele plagiou do Bach, com as melodias, ele tentou se inspirar. É uma obra de grande profundidade, transcendência. Tem histórias aí do Bach que dizem que nem o computador conseguiu entender o processo de composição dele. Ninguém consegue, é uma coisa realmente de gênio — pontua o cravista.
Para ouvir
Caçula das Bach Societies ao redor do mundo, a organização brasileira, mesmo tendo apenas três anos, já está indo para o seu 34º concerto — apresentação presencial que será realizada nesta terça-feira (18), a partir das 20h, na Basílica Nossa Sra. das Dores (Rua Riachuelo, 600 - Centro Histórico), em Porto Alegre, com ingressos esgotados. Na ocasião, serão comemorados os 300 anos desde que a Cantata 147, famosa pelo coral Jesus, Alegria dos Homens, foi composta por Bach.
Durante o evento, o grupo buscará recriar a experiência original em que a obra foi ouvida pela primeira vez: com instrumentos originais da época barroca, na acústica de uma igreja e com alguns dos maiores especialistas em Bach da atualidade, com a participação de solistas convidados vindos da Suíça, da Áustria, da Itália e de São Paulo — no total, serão 33 artistas envolvidos.
— A gente reúne esses talentos de fora, mas como diretor artístico quero mostrar que produto nacional é muito bom. A energia que os músicos brasileiros têm eu acho que é uma coisa bem particular. Mesmo seguindo todas as regras de como se deve fazer, os tratados de como eles falavam que deveria ser executada a música, a gente toma esse cuidado, mas o brasileiro consegue colocar esse "esquindô-lê-lê" (risos) — aponta Cordella.
A apresentação seguinte será em 30 de agosto no Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº - Centro Histórico), mas os ingressos ainda não estão disponíveis para compra. Será um duo entre Cordella e seu cravo com Alex Klein, oboísta gaúcho que fez história como solista da Orquestra Sinfônica de Chicago e foi vencedor do Grammy em 2002. O evento promete ser um presente para os fãs de música erudita.
— O Alex é um desses popstars da música erudita. Então, a gente chama também esses nomes para se apresentarem aqui. E essa é uma grande oportunidade para o público de Porto Alegre. Para assistir a um concerto desses, as pessoas teriam que, no mínimo, ir para o Carnegie Hall, em Nova York. Isso, então, é uma coisa muito interessante. Ter um nome como o do Alex na programação da Capital é imperdível — diz o diretor artístico da Bach Society Brasil.