Não se passaram nem seis meses desde a última vinda de Baco Exu do Blues a Porto Alegre. Era maio e, naturalmente, fazia bem menos calor do que neste dezembro. Ao menos do lado de fora do Bar Opinião, onde o rapper incendiou o público em duas noites de shows com casa cheia. A temperatura ficou altíssima.
O fenômeno deve se repetir neste sábado (10), às 21h, quando o baiano volta à Capital para um novo show, agora no Auditório Araújo Vianna. Será a primeira vez de Baco Exu do Blues — Diogo Álvaro Ferreira Morconvo no RG — na prestigiada casa de espetáculos, que o receberá com cadeiras praticamente esgotadas. Sem surpresas, vem aí mais um show do rapper com casa cheia em Porto Alegre. É assim desde 2017, quando Baco lotou a Cucko, na Cidade Baixa, em uma apresentação bem mais modesta, mas igualmente incendiária.
Naquela época, a música de trabalho era a erótica e contraditoriamente romântica Te Amo Disgraça: "Bebendo vinho, quebrando as taça, f*** por toda a casa / Se eu divido o maço eu te amo 'disgraça' / Te amo 'disgraça'". A confluência entre amor e sexo segue visível nas canções que ele apresentará neste sábado ao público porto-alegrense, presentes no disco Quantas Vezes Você Já Foi Amado?. Lançado em janeiro deste ano, trata-se do trabalho mais Diogo do artista Baco Exu do Blues, algo que ele próprio reconheceu em algumas entrevistas.
Nas 12 faixas que compõem o álbum, Baco tem no amor o seu principal combustível criativo. Mas não se trata de uma reunião de canções sobre romantismo e finais felizes. O aviso vem já na primeira frase de Sinto Tanta Raiva, a primeira canção de Quantas Vezes Você Já Foi Amado?: "Eu sinto tanta raiva que amar parece errado". É um alerta do que vem pela frente, pois não se trata de um álbum fácil. É complexo, assim como o amor.
O sentimento é utilizado por Baco como fio-condutor para uma reflexão profunda sobre o racismo. É também um desabafo do artista sobre a dor de perceber como ele influencia o modo como pessoas pretas dão e recebem amor, algo que também atinge Diogo.
— "Quantas vezes você já foi amado?" é uma pergunta que deixa todo mundo desconfortável. No meu caso, eu fui amado várias vezes, mas fui pouco ensinado a receber esse amor. Isso fez parecer que quase nunca fui amado, porque o amor é um ciclo que só se completa quando uma pessoa está entregando aquilo e você consegue receber e passar de volta de alguma forma — refletiu o artista em material enviado à imprensa.
Como Baco detalha na canção Autoestima, é difícil entender que o amor também é para si, quando a vida inteira ele lhe foi negado pelo racismo. "Tantas dores que eu tentei esconder/ Queria tudo e me disseram: isso não é pra você", ele canta no início da canção. "Sempre tive o mesmo rosto/ A moda é que mudou de gosto/ E agora querem que eu entenda/ Seu afeto repentino", diz em outro trecho. Em Lágrimas, com samples de Gal Costa, ele resume: "Tudo o que eu ouvi sobre esse tal amor me assusta".
As provocações que marcam o disco, fazendo pensar negros e brancos, dividem espaço ainda com algumas faixas mais leves e dançantes. É o caso de Samba in Paris, parceria com Glória Groove, que figura entre as mais ouvidas do artista no Spotify, impulsionada pelo refrão gostosinho: "Drinques, lingeries, Gucci / Mainha ou mon chérie / Fiz um samba em Paris / Só pra te ver dançar". 20 Ligações, ritmada com influência R&B, também está entre as preferidas do streaming e das legendas de Instagram — o verso "não sou o melhor, mas amo meu jeito de ser", retirado da música, faz sucesso na rede social.
Com as canções que fazem pensar e também as que permitem desopilar — e com direito ainda às que trazem a dose de sensualidade que não poderia faltar em um trabalho de Baco, como é o caso de Sei Partir —, Quantas Vezes Você Já Foi Amado? vem sendo aclamado pelo público e pela crítica desde a semana do lançamento, quando figurou entre os cinco álbuns mais ouvidos do Spotify mundial. Recentemente, rendeu a Baco uma indicação ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa na categoria destinada à língua portuguesa.
É com essa consagração que o rapper, hoje um dos nomes mais representativos da nova geração do rap brasileiro, vem perguntar mais uma vez aos fãs porto-alegrenses quantas vezes já foram amados. As respostas podem ser múltiplas, mas a certeza comum é singular: por aqui, Baco Exu do Blues é amado há muito tempo.
Baco Exu do Blues
- Neste sábado (10), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Osvaldo Aranha, 685) em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 120, disponíveis na plataforma Sympla.
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e acompanhante sobre o valor do ingresso inteiro.