Um dos pontos de cultura negra mais tradicionais da Capital, o Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê teve sua sede na Avenida Ipiranga invadida por ladrões durante a madrugada de 25 de agosto. Para ajudar na cobertura do prejuízo, um grupo de artistas gaúchos se reúne nesta quinta-feira (6), no palco do Bar Opinião, para o festival beneficente Somos Afro-Sul Odomodê, que terá renda revertida ao projeto. O evento começa às 20h30min e os ingressos custam R$ 30, com a doação de um brinquedo — que será usado na já tradicional ação de Dia das Crianças do Afro-Sul —, ou R$ 45, sem brinquedo. A compra pode ser feita no Sympla.
Cerca de 20 artistas se apresentarão no festival. Entre as atrações estão o músico Rafa Machado, do Chimarruts; a rapper Cristal, acompanhada do DJ MDN Beats; o duo 50 Tons de Pretas, formado pelas cantoras Grazi Pires e Dejeane Arruée; o grupo de dança e percussão Maracatu Truvão e os regueiros Paulo Dionísio e Gilberto Oliveira. A instrumentalização será da banda de reggae Sintonize.
A ação foi idealizada pelo produtor cultural Claudiomar Carrasco, que acionou os músicos e propôs que doassem seus trabalhos em prol do Afro-Sul. Para ele, a ocasião é uma forma de ajudar o instituto e também reverenciar o trabalho prestado por ele, que em 2022 completou 48 anos de atividades em Porto Alegre.
— A iniciativa parte do princípio de que o Afro-Sul é crucial para o nosso futuro, pois é uma entidade que trabalha, além da cultura afro-gaúcha, com a formação das nossas crianças. Ou seja, trabalha com o nosso futuro — diz o produtor, que já tinha a data reservada no Bar Opinião para um evento de reggae, mas resolveu transformá-lo no festival Somos Afro-Sul Odomodê após saber do furto à sede.
Todos os artistas que se apresentarão no evento estarão lá de forma gratuita, explica Carrasco. Ou seja, ninguém receberá pagamento de cachê e nem mesmo o transporte até o local será custeado pela produção. É tudo no amor.
O produtor espera que a mobilização da classe artística em prol do Afro-Sul comova também o público:
— Nós não vamos resolver, mas queremos minimizar os prejuízos. Pedimos ajuda da comunidade, pedimos que as pessoas compareçam ao Opinião, para que a gente possa reverter um valor expressivo ao Afro-Sul Odomodê. A sociedade porto-alegrense precisa dar uma resposta a isso que aconteceu.
Crime
Os criminosos levaram da sede do Afro-Sul eletrodomésticos da cozinha — micro-ondas, liquidificador, fritadeira, por exemplo —, dois botijões de gás, alimentos e bebidas utilizados em eventos e alimentação das crianças atendidas, instrumentos musicais e equipamentos de som utilizados pelo grupo em apresentações artísticas, notebook e projetor, entre outros itens. Conforme a diretora do Afro-Sul, a coreógrafa Iara Deodoro, além dos itens furtados, a sede do projeto também foi alvo de vandalismo, o que implicou na necessidade de alguns reparos.
— O que mais nos chocou é que não foi só pegar algumas coisas, foi destruir. Arrombaram janelas, arrombaram portas, espalharam lixo... — lembra.
O prejuízo ultrapassa a quantia de 30 mil reais, afirma Iara, que lamenta o fato de muitas das coisas que foram roubadas terem sido conquistadas com dificuldade pelo projeto. Além disso, muitas delas são de valor sentimental.
— Conforme a gente procura determinado item para usar e não encontra, a gente vai descobrindo mais coisas que foram levadas. Muitas dessas coisas o dinheiro compra, mas algumas não. Coisas antigas, coisas que tinham uma história e que são de um valor inestimável. Por exemplo, as panelas da minha mãe, que antes eram da mãe dela, e a caixa de som que ganhei do meu sogro, músico, porque ele ficava muito bravo que no início do projeto eu ia ensaiar e não tinha amplificador. Quer dizer, eu posso comprar panelas e uma caixa de som novas, mas não vão ter o significado que essas tinham para mim — relata a diretora.
O desânimo bateu, é claro, mas a luta agora é para conseguir reaver aquilo que o dinheiro compra. Além do festival desta quinta-feira, organizado pela classe artística, o próprio projeto criou uma vaquinha virtual para arrecadar fundos e poder continuar dando a sua contribuição para uma mudança nas estruturas sociais.
— No fim das contas, isso que aconteceu é um reflexo desse abandono social e dessa estrutura falida de sociedade que a gente têm, que levam as pessoas a cometerem isso. Seja a falta do emprego, a falta da comida ou a fissura da droga, foi esse sistema falho que levou essas pessoas a fazerem isso. É algo muito dolorido de perceber. Daqui a dois anos a gente faz 50 anos. Ou seja, há 48 anos estamos lutando justamente contra isso — reflete Iara.