Em uma celebração aos seus 46 anos de carreira, Guilherme Arantes traz a Porto Alegre seu novo show, In Concert, nesta sexta-feira (23), às 21h, no Teatro do Bourbon Country (confira o serviço ao final do texto). No espetáculo, os gaúchos terão a oportunidade de ouvir novas versões de sucessos do compositor e músicas do seu novo álbum, A Desordem dos Templários, gravado na Espanha.
— O público será brindado com um show bastante retrospectivo, com várias novidades dos trabalhos recentes. É sempre uma emoção estar no palco em Porto Alegre, cidade que eu amo de paixão — conta o músico.
Com 27 álbuns lançados ao longo de mais de quatro décadas, o paulistano de 68 anos tem músicas gravadas por Roberto Carlos, Maria Bethânia, Elis Regina, Caetano Veloso e Gal Costa, entre outros. Seus maiores sucessos incluem Planeta Água, Amanhã, Cheia de Charme, Meu Mundo e Nada Mais, Lindo Balão Azul, Deixa Chover, Lance Legal, Pedacinhos e Brincar de Viver.
No novo show, Arantes, que canta e atua nos teclados, é acompanhado por uma orquestra e apresenta algumas canções do novo disco, lançado no ano passado — A Desordem dos Templários contém 10 faixas inéditas e duas bônus. O cantor afirma que o espetáculo, que percorre ainda os principais momentos de sua trajetória com versões de câmara de seus clássicos, será "mágico".
Novas inspirações
O músico atualmente reside na Espanha, em Ávila, mas mantém uma base na Bahia, criando uma ponte aérea peculiar. Em 2019, Arantes viajou ao país europeu para uma temporada de estudos de música renascentista e barroca e de imersão em literatura e história. A intenção original era a retomada de Scarlatti, Händel, Couperin, Bach, clássicos do cravo, sem produzir material novo. Com a pandemia, essa temporada de reclusão se intensificou. Contudo, o clima serrano e os costumes da cidade histórica interiorana propiciaram novas inspirações melódicas e letras reflexivas, com teor emocional e retrospectivo, dando origem ao novo álbum.
Durante esse período, foram sendo adiadas as possibilidades de retorno ao Brasil, com a evolução da crise sanitária. Provações adicionais também foram impostas ao cantor, devido a uma cérvico-braquialgia incapacitante que o acometeu durante oito meses em 2020, com algumas recidivas em 2021. Confinado em casa e prejudicado pela dor, Arantes mergulhou na leitura e no fluxo poético, enchendo um caderno com novas letras.
— Tocar ao vivo um material novo e poder reabrir o contato com o público é uma experiência maravilhosa, depois desse período sabático forçado de quase três anos — aponta o músico.
Ainda em 2020, Hebe, mãe de Arantes, sofreu um declínio rápido do seu estado de saúde e faleceu em novembro — em outra espécie de provação para o compositor, que, no sofrimento da distância compulsória, compôs uma música para que a mãe escutasse nos últimos momentos de vida.
Com um clima onírico, A Desordem dos Templários é um álbum impregnado de tons medievais, renascentistas e barrocos, misturando ainda a balada pop tradicional de Arantes a elementos como o lundu, a valsa, a modinha, a bossa nova, a toada ternária mineira e o baião. O título tem influência do realismo fantástico. Há ainda componentes da cultura armorial e do cordel, trazendo um resgate sonoro de algumas mitologias ancestrais do povo brasileiro.
— Esse álbum é uma viagem personalíssima, um reatamento com o barroco, o progressivo, que são referências da minha mocidade, nos anos 1970. Representa também um passo além na qualidade da produção, no grau de elaboração das letras e melodias. É um álbum bastante reflexivo sobre o mundo atual, com a batalha de narrativas ocupando o espaço aberto pelas redes sociais — explica o compositor.
Além disso, pela primeira vez, na música-título do álbum, Arantes se aventura pelo que denomina "manifesto progressivo-cangaceiro", diante da normalização da violência e da impunidade, que geram uma "guerra de narrativas" — uma nova Idade Média na barbárie das redes sociais. Trata-se de uma alegoria sobre o estado de catatonia da humanidade frente ao códice dual, a estrutura binária do pensamento — alto/baixo, quente/frio, claro/escuro — que cria um permanente conflito e, na sua visão, precisará ser superada para a sobrevivência da civilização humana.
Com o repertório sendo construído em um pequeno estúdio doméstico, Arantes convocou a banda em São Paulo para que elaborasse, a distância, as participações. O músico, então, alugou a Sala Sinfônica do Centro de Exposições e Congressos Lienzo Norte, em Ávila, com um piano Steinway "D" Hamburg, para suas sessões de gravação. No palco do auditório vazio, captou o som da sala de concertos e registrou as interpretações também em vídeo.
Guilherme Arantes In Concert
- Nesta sexta-feira (23), às 21h.
- Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 150, à venda no site Uhuu (com taxa) e na bilheteria do teatro (sem taxa).