O cantor R. Kelly, 55 anos, foi condenado nesta quarta-feira (14) por abusar sexualmente de menores de idade e por produzir vídeos de cunho pornográfico infantil. A decisão foi da corte federal dos Estados Unidos em Chicago. As informações são do Chicado Tribune. Em junho deste ano, o artista já havia sido sentenciado a 30 anos de cadeia por chefiar uma rede de exploração de mulheres e adolescentes.
A nova condenação de Robert Sylvester Kelly se deu a partir de uma prova em vídeo, que mostra o cantor urinando em uma jovem de 14 anos. A vítima, inclusive, foi testemunha do caso. Outros dois vídeos do artista em situação de abuso sexual de menores de idade foram apresentadas no julgamento.
Kelly não compareceu ao tribunal nesta quarta. Apenas a advogada do cantor o representou dizendo que ele é "uma vítima de extorsão e exploração financeira".
No julgamento de junho, Kelly foi declarado culpado das seis acusações que pesavam sobre ele. A promotora que conduziu o caso, Elisabeth Geddes, afirmou que o artista é um "predador sexual" e que deve pagar pelo que fez.
Na época, a representante de Kelly afirmou que seu cliente era "produto de uma infância caótica", vítima de abusos sexuais, com problemas de aprendizagem e assédio. A profissional buscava conseguir uma pena mais branda para o cantor.
"Predador sexual"
Segundo a tese da acusação no julgamento realizado três meses atrás, Kelly "era um predador sexual". Para a promotora Elisabeth Geddes, ele criou um círculo próximo "que fez as vítimas acreditarem que eram sua propriedade" e controlava todos os seus movimentos, inclusive com quem tinham de falar. Ele as obrigava a fazer sexo com outras mulheres e outros homens e, se tentassem abandoná-lo, adotava represálias ou as assediava nas redes sociais.
Vestindo roupa de presidiário e acompanhado de duas advogadas, o condenado teve de escutar mais uma vez as experiências de várias vítimas, algumas aos prantos e com a voz embargada, que o descreveram como um "manipulador", "controlador" e "abusador", que destruiu suas vidas.
As histórias das vítimas demonstraram um padrão de conduta: muitas disseram ter conhecido o cantor em shows ou apresentações em centros comerciais e que a equipe do artista entregou a elas papéis com o contato de Kelly. Em troca, recebiam a promessa de que ele as ajudaria em sua carreira musical.
A prova principal da acusação é o relacionamento que Kelly manteve com a cantora Aaliyah — que morreu em 2001, em um acidente aéreo. O cantor compôs e produziu seu primeiro álbum, Age Ain't Nothin' But A Number, antes de se casar ilegalmente com a artista quando ela tinha apenas 15 anos, temendo tê-la engravidado. Na época, ele tinha 27 anos.
Um ex-representante admitiu em juízo que subornou um funcionário para obter documentos falsos que permitissem a Aaliyah se casar. Posteriormente, o casamento foi anulado.
Marco do #MeToo
O caso é considerado um marco para o movimento #MeToo por ser o primeiro julgamento importante por abuso sexual no qual a maioria das acusadoras são mulheres negras.
Ainda está previsto, para 15 de agosto, o início de outro julgamento em um tribunal de Chicago, onde Kelly e dois colaboradores são acusados de manipular um julgamento de 2008 por pornografia e ocultar anos de abusos de menores. O cantor também tem contas pendentes com a Justiça em outros dois Estados americanos.