O cantor R. Kelly foi considerado culpado de chefiar durante décadas uma rede de crimes sexuais, segundo o júri de Nova York, nos Estados Unidos, nesta segunda-feira (27). O julgamento durou seis semanas, ratificando todas as acusações, inclusive as de abuso e tráfico sexual.
Depois de depoimentos durante o processo, o júri deliberou durante nove horas e considerou o cantor de 54 anos culpado de cometer abusos sexuais durante décadas. Vestindo gravata azul clara, terno azul de listras e máscara branca, o artista permaneceu sentado impassível, abaixando a cabeça de vez em quando e fechando os olhos atrás dos óculos.
Ele pode pegar a prisão perpétua e a sentença será proferida em 4 de maio do ano que vem.
Para poder condenar Robert Sylvester Kelly, seu nome de registro, por extorsão, os membros do júri tinham de declará-lo culpado de pelo menos duas das 14 infrações conhecidas como predicate acts, que juntas constituem crimes mais graves.
O caso, atrasado mais de um ano por causa da pandemia, é considerado um marco para o movimento #MeToo por ser o primeiro julgamento importante por abuso sexual no qual a maioria dos acusadores — nove mulheres e dois homens — é de mulheres negras.
A promotoria costurou minuciosamente o intrincado padrão de crimes que o cantor cometeu impunemente, amparando-se em sua fama, para se aproveitar de mulheres jovens e adolescentes para sua própria satisfação sexual.
O cantor do sucesso mundial I Believe I Can Fly também foi considerado culpado de outras oito acusações em virtude da Lei Mann, que proíbe o transporte de pessoas para outros Estados por motivos sexuais.
A promotoria apontou, na semana passada, que R. Kelly se serviu de "mentiras, manipulação, ameaças e abusos físicos" para operar uma "empresa" que lhe permitiu cometer durante décadas crimes sexuais. A declaração foi dada no encerramento das alegações no julgamento contra o artista no Tribunal Federal do Brooklyn.
A promotora Elizabeth Geddes disse que o outrora popular artista de R&B "usou seu dinheiro e sua notoriedade pública para omitir seus crimes em plena luz do dia". Seis de suas vítimas eram menores de idade quando Kelly manteve relações sexuais com elas. Várias também disseram que o cantor filmava rotineiramente os encontros, o que em muitos casos constitui pornografia infantil.