Celebrando três décadas de banda e 25 anos do lançamento do primeiro disco, Transpiração Contínua e Prolongada, os guitarristas Marcão Britto e Thiago Castanho reuniram um time com ex-integrantes do Charlie Brown Jr. para sair em turnê pelo país. A trupe se apresenta em Porto Alegre nesta sexta-feira (8), a partir das 21h, no Teatro do Bourbon Country.
Fundada em Santos, a banda se dissolveu em 2013, após a morte do vocalista Chorão. O baixista Champignon morreria no mesmo ano. Além de Castanho e Britto, o tributo reúne Heitor Gomes no baixo, os bateristas Bruno Graveto e Pinguim Ruas tocando ao mesmo tempo no palco e Egypcio (Tihuana) no vocal.
No repertório da apresentação, estão previstos clássicos dos 30 anos do grupo, como Proibida Pra Mim, Zóio de Lula, Rubão, Só os Loucos Sabem, Papo Reto e Céu Azul. Conforme Marcão, também estão previstas algumas canções mais lado B.
Em entrevista a GZH, Marcão falou sobre o tributo e o legado do Charlie Brown Jr.
Com o que o público irá deparar nesse tributo ao grupo?
Um passeio por todas as fases do Charlie Brown Jr. Estamos comemorando 30 anos de banda e o aniversário de 25 anos do primeiro disco. Por conta dessas duas datas tão importantes para o grupo, a gente fez questão de separar um show com um repertório com grandes sucessos e algumas músicas que não tocaram tanto em rádio, mas os fãs gostam assim como a gente. Charlie Brown sempre teve esse "bom problema", com tanta música que gostamos e queremos tocar. Nós costumamos brincar que, a qualquer momento, podemos transformar o show numa rave (risos). Já fizemos duas apresentações até agora e foram incríveis. A galera muito emocionada. É um momento ali que vai além da música. A pessoa resgata sua própria história.
Como flui a dinâmica com as duas baterias?
Super legal! Eles se entrosaram muito bem. Criaram arranjos diferentes dentro do original, fazendo coisas diferentes muitas vezes. Ficou muito bacana.
Nos vocais tem o Egypcio, da Tihuana. Como é contar com ele ali interpretando as músicas que eram cantados pelo Chorão?
Rolou uma conexão, uma química muito boa. Nos conhecemos há décadas. É um cara bacana de se trabalhar, canta muito. Exímio vocalista. Ele se adaptou muito bem. Galera tem curtido muito. Para a gente, foi ótimo ter um amigo conosco, um cara que manda super bem. E está dentro do estilo dele, que é uma coisa que lembra muito o Charlie Brown, mas ao mesmo tempo não está tentando imitar o Chorão. Ele canta da forma dele e passa um recado muito bacana, com muito respeito.
O show marca também os 25 anos do primeiro disco, Transpiração Contínua e Prolongada. Marcão, como esse disco ressoa hoje em dia para você? Como ele envelheceu?
Havia muita vontade de fazer o projeto acontecer. Nós já vínhamos há cinco anos no underground, gravando demo e entregando na mão de cada pessoa na rua. Foi um grande aprendizado essa fase inicial da banda. Até que tivemos nossa chance de gravar o primeiro álbum e foi fantástico. Conseguimos emplacar cinco hits: O Côro Vai Comê, Tudo Que Ela Gosta de Escutar, Quinta-Feira, Proibida pra Mim (Grazon) e Gimme o Anel. Até hoje, com a galera tendo outra cultura para escutar música, é difícil ter um disco com cinco singles que toquem em rádio. É um álbum que marcou muito. De primeira, conseguimos fincar a bandeira da banda, nos estabelecendo no cenário do rock. Depois vieram os outros discos e a gente acabou consolidando todo o trabalho.
Como costumava ser a ligação do Charlie Brown Jr. com o Rio Grande do Sul? Que histórias ou momentos você gosta de lembrar daqui?
Lembro que Porto Alegre foi uma das primeiras capitais em que estivemos fora do Estado de São Paulo. Fomos dar uma entrevista a uma rádio e um dos radialistas nos falou que pensavam que a banda podia ser do Rio Grande do Sul porque a gente falava muito "tu" (risos). Os santistas falam muito "tu". Nos perguntavam, nos primeiros momentos, se éramos do Sul. Santos tem um sotaque muito particular. Sempre tivemos uma ligação muito forte com o Rio Grande do Sul. Para a gente, os shows sempre foram incríveis por aí, desde a primeira apresentação no Opinião. Fora aqueles shows no Planeta Atlântida. Sempre rolou um amor recíproco. Acho que isso se deve ao gaúcho ser muito rock and roll. O Estado sempre teve uma cena roqueira muito forte, com bandas e público.
Antes da pandemia, em fevereiro de 2020, rolou um Planeta Atlântida em fevereiro. O Charlie Brown Jr. foi a banda ausente mais presente. Havia artistas tocando covers do grupo, além de ser presença constante no som eletrônico entre um show e outro, com o público sempre respondendo positivamente. O Planeta é um festival que pega um público mais jovem, entre 17 e 20 anos. Na sua opinião, o que faz o Charlie Brown Jr. atravessar diferentes gerações?
É uma boa pergunta. Isso acontece de uma forma tão orgânica. A gente vê os números nas plataformas e a banda é super ouvida. Eu diria que seria a originalidade do nosso som. A gente desenvolveu nosso estilo. Muita gente fala: "Ah, isso aí é estilo Charlie Brown". Influenciamos muitas bandas e isso é uma das coisas que mais me deixa feliz, quando ouço: "Pô, cara, comecei a tocar por sua causa" ou "Comecei a tocar por causa da banda". Isso é muito gratificante, algo que vai além do sucesso. Além do som, as letras tratam de temas universais, que sempre vão estar latentes, independentemente da época. Charlie Brown fala muito de amor, de coragem, de luta. São coisas calcadas em uma verdade. Tem muitas letras que são autobiográficas, falando da nossa história também, de coisas que a gente passou. Acho que isso se reflete na vida das pessoas também. Todo mundo passa por esses perrengues e desafios. E o Charlie Brown é uma banda que sempre levantou essa bandeira da liberdade e da coragem de acreditar em seus sonhos. A vida é um negócio que passa rápido, como diz a letra de Como Tudo Dever Ser, "Vamos viver os nossos sonhos/Temos tão pouco tempo".
Talvez o Charlie Brown Jr. esteja para uma geração assim como o Legião Urbana esteve para uma geração anterior. Poderíamos pensar assim?
É verdade. Acho que tem a ver, sim. Tem coisas que só o tempo acaba mostrando para a gente, que nem dava para imaginar que poderia acontecer. É um trabalho relevante. Isso traduz todo o esforço que a banda fez para se manter na cena. Todo mundo se dedicou muito. Acredito muito na sinergia, quando você tem um grupo de pessoas que acredita na mesma coisa, a chance de isso se materializar na música ou em qualquer tipo de ação é muito grande. Charlie Brown sempre foi assim, com músicos muito engajados. Se mistura não só com a nossa história, mas com a trajetória de vida de todos os fãs.
Este show que vocês trazem a Porto Alegre não tem nada a ver com aquela outra turnê comemorativa que você e o Thiago Castanho se desligaram, certo? Como é que ficou aquela história? (Em outubro de 2021, os dois guitarristas anunciaram que não iriam integrar mais a turnê comemorativa dedicada a Chorão e Champignon, do Charlie Brown Jr. Em comunicado nas redes sociais, eles alegaram falta de coerência dos administradores da Tour Chorão 50, que também contava com a mesma formação do tributo que vem a Porto Alegre).
Essa turnê comemorativa já estava nos nossos planos, independentemente de como fosse acontecer, pois se trata da história da nossa vida também. Resolvemos fazer desta maneira, que achamos bacana. Estávamos um tempo sem tocar. Esta tour é original, com os caras da banda original. Aquela outra turnê, teve algumas coisas que foram feitas no passado e tudo mais, mas agora estamos tocando o nosso barco. Fazendo a nossa celebração, com os caras que compuseram as músicas e são da banda e fizeram esse rolê todo acontecer. Quem é Charlie Brown, pode chegar. É Charlie Brown de verdade, mesmo. O resto ficou para trás, as coisas que aconteceram vão se resolver naturalmente. Tudo que estamos fazendo, temos o direito de fazer. Tivemos de resolver dessa maneira. O que a gente fez no passado eu participei também, fiz minha parte. A gente só quer celebrar, tocar nossas músicas e comemorar nossa história de vida com os fãs. Tem nada de errado nisso. As portas estão sempre abertas para quem quiser somar com a gente. Queremos fazer uma coisa bacana para todo mundo, não algo unilateral.